sábado, 1 de fevereiro de 2014

12º Desafio - Ariana

E voltamos a nos atrasar, não é, Senhor Antônio? É, eu sei, muita coisa pra fazer, mas poderia ter escrito esse desafio da Ari antes não concorda? Bom, agora mostre pra ela o que você preparou! Bem, como ela pediu algo perto de um shoujo, acho que esta historinha deve servir. Até separei uma bela imagem da rainha em um momento mais íntimo e reservado. Fiquem com o conto!

Um lindo trabalho de Elephant Wendigo mostrando nossa Elektra em seu trono.
A Rainha deve escolher!

A fila ia longe, aparentemente todos os jovens sadios e de descendência “nobre” foram convocados para comparecer à seleção. Com isso, quase todos os futuros cavaleiros do reinado estavam ali, dos magros aos fortes, dos baixos aos gigantes, dos feios aos... Mais ou menos. As portas do salão permaneciam abertas enquanto em pares, pai e filho, entravam para conhecer a rainha Elektra.
Sentada no trono, vestida de preto dos pés à cabeça, o cajado com a pedra vermelha seguro firme em sua mão direita, a recém-coroada monarca do Reino do Crepúsculo observava cada um que entrava. Um levantar de sobrancelhas, um gesto com as mãos ou um meneio de cabeça serviam para que os visitantes fossem dispensados. Já perdera a conta de quantos vieram até ela falar de suas posses, de como seus filhos eram valentes e inteligentes e exímios em diversas artes. Todos bobos sem paixão no fim das contas.
Mesmo quando princesa, já convivia com constantes apresentações de futuros pretendentes, dos mais estranhos aos mais sem-graça. A rainha Elektra sabia bem o que queria, e não era nenhum deles. Mais uma vez teve de mandar embora alguém cuja aparência claramente não refletia o amor que poderia vir a sentir por ela.
- Próximo! – gritou seu lacaio-arauto.
- Diga-me, sir Hugo. Quantos ainda temos que ver?
- Quantos forem precisos até a senhora escolher um rei. É uma tradição do reino, minha senhora. – respondeu o quase ancião líder da guarda real.
- Diacho... Gostaria de conseguir saber as horas, mas o céu está sempre avermelhado, e este pajem inútil vive errando com a contagem.
O dito garoto se encolheu diante da acusação. Sentiu o olhar pesado de sir Hugo e temeu pela própria vida, mas a nova rainha não tinha a fama de assassina do rei anterior. O som de passos conseguiu tirar a atenção de cima dele.
- Sir Gerfried e seu filho, o bravo Gallen!
Dessa vez a rainha se animou, assim que viu o jovem seu coração de adolescente deu um salto. Alto, musculoso, os olhos azui como o mar que banha a Praia do Anoitecer, e os cabelos minunciosamente ajeitados. Não fosse o excesso de roupas, Elektra pensou que poderia ver um tronco sarado e pernas torneadas. Segurou um suspiro apaixonado até que os dois se dispuseram à sua frente, ajoelhando. O rapaz não a olhava, parecia encarar displencemente a sala, os guardas, até o pajem, mas nunca ela.
- Minha rainha, trago à sua presença meu filho, Gallen. Ele, que já batalhou ao meu lado na defesa da Baía das Águas Verdes, que venceu três torneios de Tiro, que é o mais belo deste reino.
Os elogios eram mal e porcamente ouvidos. Enquanto o pai falava, Gallen se movia, mostrando as formas para a Elektra que ardia em desejo. Ainda assim, em nenhum momento ele direcionou os olhos para ela, o que a estava incomodando. De repente, notou que ele parecia muito interessado em um recruta próximo a sir Hugo, um homem de cabelos e olhos negros. Uma ideia passou pela cabeça da rainha, que chamou pelo soldado, pedindo a ele que fosse entregar ao pretendente uma taça de água, pois ele poderia estar com sede. Quando a ordem foi atendida, Elektra captou o olhar lânguido dde Gallen para ele e só pode dar um tapa na testa. A situação foi percebida por todos, que resolveram olhar para os lados.
- Bem, lorde Gerfried, seu filho foi... Muito apreciado... Por nossa rainha... Mas voltaremos a falar com vocês... É... Depois...
Constrangido, sir Gerfried levou seu filho para fora, praticamente arrastado. Foi possível ouvir a batida que deu no garoto assim que saíram do salão. Elektra só tampou o rosto com a mão para evitar o riso. A dupla seguinte lhe chamou ainda mais atenção. Parecia um belo par de gêmeos ruivos, não fossem os cabelos rareados do pai. O mais novo claramente não era voltado para o combate, mas a beleza de seu resto anguloso e do nariz adunco foi capaz de tirar uma piscada da donzela.
- Sir Archibald e seu filho, Elliot, o sagaz.
- Minha rainha, por favor, espero que possa dar um pouco de atenção à meu rebento.
- Belíssima soberana, ouso ficar em sua presença para tentar lhe tirar ao menos um sorriso, para que possa honrar sua generosa perfeição, que a todos nós é tão acalentadora. E quando a noite finalmente cair em nosso reino, gostaria de ser o estandarte iluminado por sua luz e... – a fala de Elliot prosseguiu.
Elektra segurou um bocejo. Ele continuava falando, mesmo depois de ela ter passado a contar os detalhes dourados na bandeira de seu reino. Seria o Sagaz tão estúpido que não reparava ter perdido todos os pontos com sua pretendente? Finalmente cansada e ele ainda não parando, ela fez um sinal de corte e o rapaz foi arrastado para fora pelos guardas, levando o pai dele junto.
- Sir Hugo, por acaso o senhor está brincando comigo?
- Perdão, milady, mas não sou eu que seleciono os candidatos – e lançou um olhar intimidador para o pajem, que procurou um buraco para se enfiar.
- Então que venha o próximo. E que seja bom!
As preces foram atendidas. Diferente do primeiro, um acumulado de qualidades díspares que virou um nada, este tinha a coesão de uma obra-prima. Os cabelos curtos, espetados, os lábios carnudos, o corpo delgado, mas firme, o porte de um atleta. Trazia nas mãos um baú que deixou aos pés da rainha.
- Sir Brahm e seu filho, Conner.
Ela nem havia reparado no idoso com rosto de falcão que viera acompanhando o rapaz. Tão diferentes, ele partilhava dos mesmos olhos intimidadores do filho.
- Trouxemos um presente, caríssima rainha, algo que não chega aos pés de sua magnificência, mas desejamos que aprecie.
Sir Hugo abriu o baú, mostrando à rainha o conteúdo da caixa, que a enojou. Era a carcaça de algum animal selvagem, talvez a cabeça de um lobo. Foi o suficiente. Fez um movimento com as mãos e a caixa, o pretendente e seu pai sumiram de sua vista. Estava prestes a chorar. Em questão de minutos tivera experiências tão ruins que teve certeza que surtaria antes do último. Precisava de alguém decente, carinhoso, que fosse bonito, mas não precisava ser tanto assim, desde que fosse um homem bom.
Tão enfiada na própria cabeça estava que mal ouviu o anúncio do pretendente seguinte. Quando levantou os olhos, seu coração perdeu o compasso, seu estômago revirou e suas mãos suaram frias. Ele não era o mais bonito, mas tinha o charme de um músico. Também não parecia o mais forte nem o mais ágil ou inteligente, parecia mais matreiro, o tipo de cara que teria uma boa ideia na hora certa e a tiraria do perigo. Não precisaria enfrentar um dragão, e matar o pobre bichinho por ela, ele o enganaria e conseguiria fugir com o tesouro e tudo.
- É ele! Por favor, tragam-no aqui! – gritou apontando para o garoto.
- Mas senhora...
- Agora! Depois de tudo isso, eu mereço falar com ele diretamente!
- Senhora...
- Obedeçam!
Por algum motivo o rapaz foi levado até ela de um jeito brusco, e sob olhares nervosos de todos. Sir Hugo trocava o peso dos pés e segurava a espada da forma errada. Todos pareciam não saber onde enfiar as próprias cabeças. O jovem estava tremendo um pouco de um jeito fofo.
- Então, por favor, pode repetir seu nome?
- É... Janus, minha rainha, mil perdões.
- Não precisa se desculpar, Janus. Diga-me, você não é adepto de caçar lobinhos e me trazer a pele como troféu, não é?
- Não, minha senhora! Juro que não! Odeio caçar! Prefiro... Adestrar os animais.
- Ótimo! Imagino também que goste de mulheres, não é? Digo... Acha-me bonita?
- Linda... Bela como uma rosa desabrochando sob a luz do sol.
- E ainda é sucinto! Sim! SIM! É você! Venha aqui, meu príncipe!
- Mas senhora! – interrompeu Sir Hugo não mais se contendo – Ele é apenas o pajem de Sir Harold e seu filho Mardock! Aqueles são seus pretendentes!
A rainha olhou para onde o cavaleiro apontava e encontrou o olhar reprovador e indignado de pai e filho, dois exemplares perfeitos de pessoas mais noção que já vira. Perto deles Janus passava de um simples servo para um magnífico pretendente.
- E daí? Eu o compro de Sir Harold, o transformo em cavalheiro e o caso comigo! Quer dizer, se você aceitar, sir Janus...
O garoto claramente ficou sem o que dizer. Engasgou nas palavras, trocou os pés pelas mãos e tremeu ainda mais. Ainda assim, quando olhou para ela, Elektra sentiu o calor de uma paixão inesperada. Talvez, aos poucos, ele estivesse se apaixonando por ela.
- Não precisa ter pressa, sir Janus. Pode apenas dizer que sim agora e ficaremos um bom tempo noivos, para nos conhecermos melhor. Se eu tiver te aceitado, ninguém vai poder me dizer que não. Entenderam?
Apesar de contrariados, os servos da rainha e os pretendentes só puderam concordar, frustrados.
- Eu... Eu adoraria... Minha dama...
A rainha se levantou do trono, desceu sorrindo e pegou na mão dele que ficou vermelho como um pimentão.
- Venha, vou lhe mostrar meu... Nosso reino.

E saiu feliz.

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