segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma Segunda Canção

Há algum tempo fui desafiado pela Ann no blog dela a escrever um conto baseado em um poema que ela escreveu. Esse desafio foi cumprido, mas demorei um tempo para postar, porque estava concentrado em muitas outras coisas. Desculpem, passei da conta mesmo, mas estou de volta, para falar de uma canção belíssima que quero compartilhar com vocês. Espero que gostem.



O Baile

Deixem-me falar de príncipes e princesas, de bailes e danças, deste mesmo salão e da festança que antecedeu os melhores anos do Grande Reino. Deixem-me falar de duas pessoas que não tinham nada em comum a não ser a presença em uma mesma cidade, à mesma hora, em uma mesma noite. Deixem-me falar de duas almas que não estavam destinadas, mas que conseguiram encontrar-se, quase sem querer, na multidão de vidas em polvorosa.
É claro que começou subitamente, uma troca de olhares muito rápida, quase imperceptível, enquanto as cinco famílias entravam no castelo ás vésperas do que seria o maior baile de todos. As flâmulas azuis e douradas envolviam o cortejo que ela acompanhava e ele montado em um belíssimo corcel com as cores vermelho e preto captava os suspiros de quase todas as garotas menos ela. Ela o observou profundamente, analisando se era mesmo o cavalheiro que ostentava a brilhante armadura. Ele percebeu seus olhos e os encarou pelo milésimo de segundo antes dela desviar a atenção para outro lado, escondendo o embaraço.
Não mais se viram e o que poderia ter terminado com uma simples coincidência se tornou mais complexo ao iniciar das festividades. Ele era apenas mais um entre os cavaleiros seguindo a entrada do Rei e ela estava sentada à mesa das damas, em um formidável e discreto vestido azul escuro. Dessa vez foi ele o primeiro a notar e segurou a respiração ao perceber como ela estava fantástica. Seu cérebro enevoou por segundo e foi atropelado pelos homens que o seguiam, causando certa vergonha, mas nem isso pode impedi-lo de tomar uma decisão ousada.
Assim que os casais se uniram na dança em duplas ele levantou-se de seu lugar próximo ao seu suserano e caminhou obstinadamente até ela, que não conseguiu fingir surpresa. Desde o primeiro acorde da música ela estava à sua espera, ainda que em nenhum momento imaginasse que seu sonho, tão tolo, pudesse ser o prenúncio da realidade. Ele tomou sua mão e a puxou para a primeira de muitas valsas. O mundo ao seu redor se apagou e haviam apenas os dois, no meio do salão, juntos, embalados em uma música qualquer.
Quando enfim ela tomou coragem, soltou a voz que ele tanto aguardava e o som entrou em seus ouvidos como se fosse a melodia mais triste e bonita de todo o mundo.
- Eu sou Aurora, da casa Primavera.
E ele respondeu, feliz, e a ela soou como se fosse o ribombar de canhões, quente, mas também carinhoso, quase cálido.
- E eu Poente, da casa Verão.
A resposta trouxe um enigmático sorriso aos lábios dela e ele só pode aproveitá-lo como a torrente que era de felicidade. Quando a música cessou, ele a levou para a sacada, para olhar o céu noturno. Estava tentado a abraçá-la, mas não o fez. Na verdade, sua felicidade parecia escorrer.
- Eu não disse tudo, minha princesa. Não sou somente Poente, mas príncipe Poente, e estou prometido a uma Lady, que descende de uma antiga família de nobres de outra casa.
Ele quase se entrega ao choro. Ela lhe era quase desconhecida, uma estranha, mas seu coração já estava completamente entregue. Sonhava agora por uma guerra, para onde pudesse partir e não sofrer, onde talvez se entregasse à morte para nunca ter de deixá-la. Ainda assim, ela apresentava um formoso sorriso e ele chegou a pensar que ela fosse louca, sádica ou que o achasse um falastrão e não acreditasse em suas palavras. Mais do que isso, talvez ela não sentisse o mesmo e isso lhe parecia horrível.
- Também não lhe disse tudo, meu príncipe. Não sou princesa, sou uma lady, e como me foi dito por meu tio, o rei de Primavera, eu também fui prometida a alguém, ao príncipe de Verão, para que unisse nossas casas pela nobreza.
E de repente o céu se abriu para o príncipe e ele se encontrou voando entre as nuvens tamanha sua felicidade. Pudera, mesmo entre tantos, reconhecera seu amor verdadeiro, a quem devia seu corpo e alma.
- E se minha casa não tivesse feito essa promessa, e se sua casa não tivesse feito essa promessa, ainda assim eu a tomaria por esposa, minha querida.
E beijaram-se, entregues completamente.
Podem me chamar de bobo, podem me chamar de romântico, mas esta é apenas a história de duas almas que nunca deveriam se conectar, de duas pessoas prometidas por interesses, mas que, como prova o destino ser brincalhão, apaixonaram-se antes mesmo de saber. Ele um príncipe guerreiro, ela uma lady sem qualquer instrução, e ainda assim, perfeitos um para o outro.

sábado, 11 de maio de 2013

Magia do Cinema

 Ontem repeti um programinha muito legal que queria que ficasse permanente: Ir ao cinema quinta feira com as queridas Ann Carnivalli e Ari. Sério, as duas vezes foram demais, garotas, muito obrigado pela ótima sessão. Mas, dessa vez saí do cinema motivado a escrever uma resenha, algo inédito a trazer pra cá. Bom, espero que vocês consigam ver o quanto apreciei Anna Karenina. Com vocês, minha primeira resenha aqui.

Anna Karenina

O teatro é um espaço sagrado para as histórias, pois entre suas três paredes, e ás vezes além delas, em contato com o público, histórias podem ser contadas com poucos recursos, muita imaginação e interpretações dignas. Anna Karenina, do romance de Liev Tolstoi, é um dos espetáculos que depende muito mais dos personagens do que da história em si, e com elenco recheado, tanto surpreende quanto encanta e também decepciona, tudo a seu tempo.
A trama gira ao redor da personagem título, interpretada por Keira Knightley, e seu affair com um conde, o que causa escândalo na Rússia Czarista dividindo opiniões entre os liberais e os religiosos e muito mais além, mas o foco do filme está na chaga criada na família Karenin e no romance forte com Vronsky. Apesar de não gostar da atuação automática de Knightley, sua dedicação em tornar Anna tão agradável quanto desprezível é realmente o melhor do seu trabalho. Cada olhar dela, cada expressão de “Oh!” quando uma oportunidade surge, e cada delírio quando seu mundo começa a desmoronar é de cortar o coração e servir como petisco.
Olhando desse jeito, até parece que ela é um doce de pessoa...
Em contraponto, seus dois amores, o certo Karenin (Jude Law, fantástico) e o incerto Vronsky (Aaron Johnson), são excepcionais. O fato de o nome dos dois ser pronunciado da mesma forma, o que rende uma cena agoniante e vergonhosa para a pobre Anna, é a única conexão deles além da paixão pela protagonista. Aleksei Alexandrovich Karenin é um homem sério, justo, de pensamento avançado e também sentimentos nobres, que não sabe como proceder no caso de adultério e se vê confrontado por um mundo que nunca lhe passou diante dos olhos. Law dá ao personagem uma interpretação formidável e se sentimos pena dele quando Anna o humilha ou raiva quando ele se vê cercado e faz a escolha fácil, é tudo mérito do olhar firme mas triste do ator.
Esse visual até me lembrou um certo Doutor Watson.
Já Aaron Johnson, cujo único papel que conhecia era do garoto que apanha pra caramba em Kick-Ass, aproveita exatamente do seu ar de novato, de recém-saído da juventude. Aleksei Vronsky é o auge do furor do homem novo que Anna sem saber procura. Não há medo no seu olhar, nem mesmo incerteza, já que no fundo não há guias. Ele faz o que quer, quando quer e como quer... Ao menos até que seja levado pelas mãos pro destino que sua mãe decidiu. Não sei dizer se Johnson esteve formidável no papel ou se o diretor o colocou em uma situação confortável, mas na primeira metade do filme seu personagem rouba a cena em todos os momentos que aparece.
Esse bigodinho é ridículo, mas ele se revela um conquistador.
E já que falei de personagens, no outro núcleo, do irmão de Anna e de onde surge Vronsky, há outros dois personagens que me chamaram tanta atenção quanto e dos quais gostei mais: Kitty (Alicia Vikander) e Levin (Domhnall Gleeson). O segundo é conhecido pelo papel de William “Bill” Weasley na série Harry Potter, mas Vikander me era desconhecida... Ainda que agora eu passe a prestar mais atenção nela. Seus personagens giram uma segunda história, afetada pela de Anna. Kitty esperava ser desposada por Vronsky, em um plano previamente arquitetado pela Condessa Vronsky, e por isso despreza Levin. Mas quando ela é deixada em Moscou por Vronsky que correu atrás de Anna, sua personagem sofre um profundo abalo e aos poucos, tanto ela quanto Levin vão mudando, sem perder essência. Toda a sequência do encontro de Levin com seu irmão nos subúrbios da cidade, do conhecimento da prostituta que vive com ele e da renovação do personagem nos campos é um arco fantástico demais pra ser ignorado.
Esses olhos são lacrimejantes e encantadores.
Aliás, talvez a grande estrela do filme sejam os cenários mutantes, todos bem trabalhados para girarem ao redor dos personagens, sem tirar deles o brilho. A sequência inicial, um plano contínuo que começa em um teatro e mostra a empresa de Oblonsky, o irmão de Anna, e sua casa, além de um restaurante é de tirar o chapéu. Por mais esquizofrênica e alucinada que seja, a sensação é de imersão, um balé em que os personagens, por pouco, não transformam em ópera, cantando suas falas. Ponto alto do filme, o baile em que Anna e Vronsky dançam é belo e triste, seja pelos olhos de Karenina, deslumbrada, quanto pelos de Kitty, decepcionada.

Essa é uma das cenas mais lindas do filme. Uma montagem doce e bem elaborada.
A trilha sonora contribui muito neste segundo caso. Por mais absurda que uma cena seja, como a invasão de Anna à própria casa em busca do filho, as notas não nos deixam enganar, e sabemos que aquele é um momento de sofridão. Lágrimas podem correr dos olhos de todos enquanto aos poucos o mundo de Karenina vai se tornando mais escuro (em contraste ao seu vestido que passa do negro pro branco e do branco pro vermelho em cenas chave) e o de Kitty mais claro e amplo. O final, repetindo uma pequena parte da coreografia inicial, encerra o espetáculo com louvor e nas cadeiras do cinema nós deixamos o teatro. Felizes, pelos personagens, mas tristes pela história.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Rebeldia e Tradicionalismo

Sempre que eu vejo vampiros "modernos" eu me pergunto que diabos fariam os antigos se tivessem como pegá-los no flagra, em seus ataques de histeria e colocá-los em seu devido lugar... Bom, não fiquei só na imaginação, transformei em conto, um dos meus favoritos da primeira leva do Lua Macabra, mas que não sei se encaixa REALMENTE nele... Já consegui alguns bons sorrisos de dentes pontiguados com ele, então... Quem sabe... Eu traga mais alguns caninos para o meu lado hoje... Aproveitem o sangue jovem, mas não esqueçam do poder do sangue antigo!



Abaixo o Antigo, Viva o Novo!

Houve um tempo em que éramos poucos. Tão poucos que não encheríamos um prédio de condomínio, daqueles com só quatro andares, que não se vêem mais por aí. Agora, se eu piscar, verei dois novatos entrando pelas portas de minha casa, implorando ensinamentos antigos, que não são capazes de compreender. Eu bebo raramente agora, minha idade me deu tanta força que não preciso me conter para andar por entre os mortais. Sei que eles me sentem, um frio inconstante que me impede de simular vida, mas o que eu faria, com tantos séculos, se ainda andasse com trajes dos tempos de seus avós? Eu precisava me atualizar. E isso foi o que os atraiu. Como poderiam menosprezar a chance de conhecer alguém tão velho? Heh, velho, é claro.
Não vou mentir. Seu fedor chegou a mim no instante em que o carro virou a esquina. Vinham precavidos, refazendo o caminho que treinaram tantas vezes, para que não fossem percebidos. Falharam, óbvio. Desceram do veículo e ouvi os passos pesados. Ao menos um deles portava armas, o tilintar extremamente audível para qualquer um com minha idade. Se me ameaçassem, tinham a vã esperança de me causar algum dano antes de reagir. Talvez conseguissem, não luto há mais tempo do que eles existem.
A porta abriu, sem parcimônia, e eles entraram, demonstrando o mínimo de respeito possível. Claro, para eles, cujos costumes eram mais bárbaros que o povo mais selvagem de minha época, este era o certo, o "educado". Não queriam me pertubar, para que eu não lhes desse a reprovação sem antes abrirem suas bocas e falarem todas as besteiras que pensaram durante aquele mês. Prometi a mim mesmo que lhes daria a chance. Quem sabe não doeria tanto, quem sabe não seria como ouvir os bardos cantando sobre heroísmos que nunca existiram? Poderiam até ter pesquisado sobre mim, e encontrado algumas daquelas anedotas quase perdidas sobre o tempo.
Eram dois, realmente, e tão díspares, um magrelo e uma mulher. Desconfio que gostassem das mesmas coisas, visto que se trajavam de forma dissonante, ainda que reveladora de suas almas. Os cabelos, ralos, dele, caíam sobre os olhos, raspados ao lado da cabeça, passando do intenso negro para um vermelho berrante. Suas roupas se resumiam a uma folgada camiseta bordô e uma calça colada, que provavelmente era de couro. A maquiagem em seu rosto, banal nos dias de hoje, era tão ou mais pesada que a da fêmea. De forma esguia e sensual, ele tentava transperecer tanta feminilidade quanto ela, em seu vestido canudo, com abertura no ventre para revelar a barriga bem construída e uma nesga da lingerie preta. Os cabelos, curtos em corte Cleópatra, caíam leves logo acima dos intensos olhos azuis. Seus lábios, vermelhos, quase tão convidativos quanto os seios, apertados no topo do vestido tomara-que-caia. Definitivamente, duas jóias raras, que poderiam me atrair e levar ao inferno pessoalmente.
A voz que saiu do garoto não era o que esperava. Tinha um tom grave, com pequenas desafinações, como no fim da adolescência: - Aí está você... Milorde. - A bajulação soou fria, vazia, um gracejo pobre para convencer-me de devoção inexistente. - Procuramos pelo senhor há tempos...
- Não diga, asneiras, Todd. Ele sabe que não é verdade. - a voz dela, no entanto, era bem o esperado, um arfar sensual, como se precisasse conter toda a sua eroticidade em cada palavra.
Decidi me abster de comentários, continuar apreciando o espetáculo. Esquadrinhei seus perfis no escuro, imaginando se poderiam oferecer ao menos uma fração do perigo que desejavam transmitir. Ela era a inteligente, claro. Ele, por outro lado, era o esperto, o sobrevivente e sacrificaria tudo, inclusive ela, para sair dali vivo. Resolvi jogar esse jogo.
- Desculpe minha companheira, mestre. Ardell nunca aprendeu a ser digna diante de um nobre. Mais ainda quando o nobre é tão importante quanto o senhor. - ele já me deixava enfadado e pensei seriamente em cortar seu pescoço naquele momento.
Ela bufou, compartilhando da minha falta de entusiasmo e me peguei pensando em como uma garota tão esbelta poderia ter tanta falta de ar. Não com aqueles pulmões, imagino. Já ele, tentava abertamente me chamar a atenção, dominar minha vontade. Falhou completamente.
- Se o mestre permitir, gostaríamos de um minuto do seu tempo. - me perguntei se ele havia sido transformado por caridade ou brincadeira e que estúpido o fizera.
Finalmente resolvi que seria bom me pronunciar, talvez conseguisse mandá-los embora. Apesar de tudo, não gosto de matar aqueles da minha raça: - Você já está gastando meu tempo, criança. Então seja rápido antes que a conta fique muito cara.
As reações, adversas, foram as melhores até aquele momento. Todd, como chamara a garota, parecia estupidamente ofendido e fazia uma expressão perdida que talvez lhe levasse ao erro fatal. Já ela, pela primeira vez, olhava diretamente para mim, entretida com a forma como eu despachara os dois. O garoto procurou em volta e diversas vezes conteve a mão que se dirigia para as costas, provavelmente à procura da arma. Antes que voltasse a falar, me ergui de minha poltrona e caminhei até eles. A mão enfim fez o percurso, mas não encontrou coisa alguma. Seus olhos não poderiam crêr que eu realmente brincava com a pistola, uma calibre .38 como viria a saber, procurando entender seu funcionamento. A garota, Ardell pelo que ele tinha dito, colocava a mão suave sobre os lábios, contendo o "Oh" de assombro. Joguei a arma por sobre o ombro esquerdo e toquei o rosto do jovem, trazendo-o para perto do meu. Nossa diferença de altura, eu dez centímetros maior que ele, no mínimo, sumiu assim que ele se pôs nas pontas dos pés.

- Não me dê motivos para achá-lo ainda mais irritante. Se nada tem a dizer, aproveite que estou satisfeito com o presente de metal, e suma de minha presença.
Soltei-o e ele caiu de joelhos, chorando. Dei as costas, crente de que eles partiriam, quando fui surpreendido pela garota. Ela utilizou tudo que tinha para conseguir velocidade suficiente para surgir na minha frente. Sorria, nervosamente, e passava um pirulito vermelho por entre os lábios, encarando-me com forte admiração. Naquele momento, incoerentemente, eu que me tornei a presa. Delicadamente me tocou o peito, apertando os dedos sobre a minha carne e arfou profundamente.
- Sabe o que queremos, não sabe? Já sabia assim que entramos em seus domínios. Bom, eu estou disposta a me oferecer em troca de tudo que você puder me passar. - ela provocou, mordiscando o pirulito com vontade.
Ergui a sobrancelha, mantendo a aspereza na voz: - E o que me impediria de tirar de você isso que tem a me dar? Acha que vale tão pouco o que EU tenho?
Ela não respondeu, continuava com a malícia nos lábios e virou-se, caminhando e rebolando, em direção ao caixão antigo que conservava em meu refúgio. Apoiou as mãos nele, erguendo o traseiro e me observando por sobre os ombros.
- Nada impede, porém, nada garanto que será tão bom quanto o que EU tenho para sacrificar. Só quero... Um pouquinho de seu poder. - ela dizia, sua voz ainda mais provocante.
Movimentei-me para suas costas, apertando seu corpo ao meu, revelando quão pequeno era. Comprimi sua cintura entre a minha e o caixão e cravei os dentes em seu pescoço fino e macio. Eu havia lhes dado todas as chances. Se ela queria isso, teria. Rasguei seu vestido sem pensar duas vezes, fazendo com que ela desse um gritinho assustado. A expus completamente, satisfazendo-me com a visão de um corpo perfeito, parte moldado com as facilidades dessa era moderna. Passei a sugar o ralo sangue daquela criatura por tempo suficiente para eu mesmo estar livre de roupas. Ouvi os gemidos dela passarem de dor para prazer e foi o que dei a ela. Sabia que o rapaz ainda não havia fugido e decidi que se o que ele queria era apreciar o que eu fazia com a sua amiguinha, deixaria que o fizesse. Pressionei-a por muito tempo, até me sentir completamente agraciado com seu corpo. Larguei-a, longe do meu caixão, e olhei de um para o outro. Havia bebido o suficiente dela para que estivesse realmente renovado.
- Agora, se nada mais tem a fazer. Por favor, abandonem meu... - uma pontada estranha me fez olhar para meu peito.
Destoando do resto de minha roupa, uma pequena estrela de prata adornava a região próxima ao meu coração. De fato, a garota errara por centímetros. Se ainda não sentira, era por causa do êxtase que ela me causara. Eu agora estava furioso. Os dois não haviam percebido que falharam em seu plano e riam descordenadamente. Com extrema raiva, eu agarrei a garota pelo pescoço, e como estava ainda exausta do meu tratamento, foi fácil jogá-la para dentro de uma porta, um quarto anexo ao meu. O garoto, lentamente entendendo o que acontecia, não escapou de um golpe profundo, que o lançou pela janela. Eu moro no quinto andar de um prédio antigo. É muito alto. Antes que ela se levantasse, eu a pressionei contra o chão de madeira. Ainda não estava pronto para deixá-la morrer. Ainda não. Entre gritos, eu a arrastei para dentro da sala escondida, trancando-a longe de qualquer ajuda, e utilizei a estrela de prata para deixá-la imóvel. Ao que parece, ganhei dois presentes nesta noite.

Venham a mim, crianças da noite! - ordena Drácula, imortalizado por Bela Lugosi.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Livre Arbítrio Extremis

Hoje vi Homem de Ferro 3 e se tem algo que tirei do filme é: Nós criamos nossos próprios demônios. Ok, essa frase é bem clichê, mas não deixa de ser extremamente real, e não só no sentido literal, de pessoas que acabamos incomodando e que, em algum momento, virão atrás de nós para a desforra, mas também como nós criamos nossas próprias barreiras mentais. A frase que Tony repete umas duas vezes no filme é exatamente o maior vilão dele, o que o deixa transtornado até o momento em que uma criança mostra pra ele o caminho certo... Uma CRIANÇA diz a um dos maiores gênios do mundo a questão mais simples: Seja quem você é e siga em frente, porque atrás vem gente. E a partir daí o filme deslancha de verdade e conseguimos acompanhar Tony Stark no seu melhor herói anti-heroístico calhorda... Porque isso é o que ele é.
Assim sendo, trago a vocês uma poesia que escrevi em um momento de raiva, um instante em que eu queria expressar algo e só poderia ser através destas palavras, deste modo, quando enfim uma frase queria sair de qualquer jeito... Faça, porque se ficar parado, você vai ser atropelado. Com vocês...



Encruzilhada

Dor, ó indignissima dor da decisão
Tantos caminhos a escolher
Salvação ou perdição
Dor do tempo perdido, da faca amarga
Da ida sem volta, da vida desperdiçada
Dos confins da memória, a conversa velada
O debate dos neurônios, a opção não tomada
E eu aqui só, finito e incompleto
As chances nas mãos, grilhões inconcretos
Falho em si, morto por dentro
Não temo a mim, mas a ti, destino incorreto
Rasgo tremendo da dor que foste feto
Lamento tenebroso nada certo
Diz-me o caminho
Ou perecerei neste momento

E sempre que eu penso em escolhas, em saber o que fazer, me vem à mente esta música... Mais do que um hino anarquista, é uma ode a geração de perdidos que não sabe pra onde seguir... É Raul mais uma vez a frente do seu tempo, falando de pessoas que têm medo de seguir por caminhos "desconhecidos", esquecendo que alguém precisa trilhá-los... Sigam, façam o que querem, pois é tudo da Lei...