Ótima imagem tirada daqui. |
O Tigre, o Lobo e a Raposa
O sol subiu no horizonte, clareando o vale e iluminando o
lago. Das sombras, um tigre de cores claras, um animal esplêndido, saiu para
beber água. Sua pelagem reluzia com o amanhecer, os olhos irrequietos
procurando por possíveis presas. Nenhum som o alertou para perigo. Convencido
de que ninguém poderia observá-lo, o tigre se ergueu nas patas traseiras e
tirou a capa de pêlos, revelando uma bela jovem por baixo.
Corpo nú, apenas uma faca presa a um cinto para proteger-se
em sua outra forma. Abaixou-se para pegar água com as mãos quando um som lhe
atraiu o olhar. Discreta, uma raposa tentava sair de sua toca sem chamar a
atenção, mas acabara tropeçando em um graveto, o suficiente para que o Tigre
lhe percebesse. O pequeno animal não dava medo ao felino, então o ignorou. Mas
a raposa continuava parada lhe olhando.
De repente, do mesmo modo que o Tigre, a Raposa se pôs de pé
e livrou-se de seus pêlos, surgindo de lá outra jovem também bela e de corpo
generoso. Ela usava apenas uma alforja e carregava um arco. Mesmo armada, ela
ergueu as mãos para fazer sinal de “não vou lhe ferir”.
- Acalma-te, amiga Tigre. Nada posso lhe fazer de mal. Vê?
Sou só uma raposa.
- Então por que te aproximas tão sorrateiramente, Raposa? Se
sabes que sou um animal caçador e meu instinto diz para lhe atacar, por que me
dás esta oportunidade?
- Só queria beber água ao teu lado. Nunca encontrei criatura
tão excepcional antes. Tão bela és que meus olhos quase se feriram.
- Não me bajules demais, Raposa, sei de tuas artimanhas.
Tramas pelas minhas costas para tirar proveito de mim.
- Oh, nunca faria isso contigo, senhorita Tigre, de forma
alguma!
E ainda que a Raposa se defendesse, o tempo todo o Tigre a
observava, sempre atenta a qualquer movimento suspeito. Outro somde passos
atraiu a atenção das duas. Um homem, vestido de preto e portando uma espada se
aproximava. Seus olhos pareciam serenos, mas sua postura de guerreiro ativou o
modo de batalha do Tigre. Ele chegou até o lago, ajoelhou-se e pegou um bom golede
água com as mãos.
- Não temam, garotas, nada tenho a fazer com vocês. Beberei
e irei embora.
- E como posso confiar em alguém que nem conheço, senhor...?
- Meu nome não é de importância, Tigre, nem o seu. Se o sei,
é apenas pelo barulho de vossa discussão.
E bebendo mais um pouco, o homem se ergueu e voltou-se para
retomar o caminho. Quando passava pela Raposa, ele esticou o arco, fazendo-o
tropeçar e caindo. Fora uma armadilha fácil de evitar, mas parecera que ele nem
percebera.
- És cego, meu amigo, e também conheço teu cheiro e tua
forma. És um Lobo não?
- Se sou, não entendo porquê terias me derrubado. Que mal te
fiz?
- Mal nenhum, é fato, e por isso me desculpo profundamente,
mas precisava ter certeza de minhas suspeitas. Agora que o fiz, lamento muito
pela brincadeira. Como compensação, lhe indicarei o caminho correto para que
sigas em paz.
- Agradeço. E também à ti, Tigre. Mesmo que eu, uma boa
presa, tenha caído diante de ti, não me atacasses à traição.
- Apesar de tudo, minha alma de caçadora tem como rival
minha alma de guerreira, que me impede de ferir um oponente caído. Vá, Lobo
Negro. E não volte mais, não lhe darei outra chance.
- Também prezo por ti, Tigre, e espero que consigas
encontrar o que procuras. E a você, Raposa, desejo sorte em tua empreitada.
E sem dizer mais nada, seguindo as informações que a Raposa
lhe passou, o Lobo se foi. Quando o Tigre se virou para olhar, a Raposa também
havia partido. Disposta a esquecer tal encontro, mas sabendo que nunca fugiria
de sua memória aquelas auras tão ímpares, o Tigre voltou à sua pelagem e se
embrenhou na floresta, seguindo seu destino.
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PS: Tentarei publicar ainda hoje o 16º Desafio para não pular NENHUM dia.
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