sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

17º Desafio - Bruna Cristina

Uau, esse foi intenso. A Bruna, depois de muito, muito me enrolar mesmo, finalmente me desafiou a fazer um conto usando como fundo a música Behind Blue Eyes do The Who. Digamos que eu acho que consegui entrar no feeling da coisa e saiu um conto bem tenso que eu adorei escrever. Era pra ter saído ontem, mas exatamente o sentimento que me fez atrasar pra hoje é que tornou o conto tão legal. Eu ainda devo dois textos a vocês. Não se preocupem, voltem em meia hora, no máximo. Coloquei a música junto para que vocês possam sentir o que quero dizer.


Anger - Raiva

As janelas fechadas. As portas trancadas. A luz apagada. Apenas uma vela iluminando fracamente a parede forrada de fotos. Todas manchadas com cola, umas poucas riscadas nos rostos alheios. Apenas o dela intacto.

No one knows what it's like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes

Chora, o corpo tremendo de dor e medo. Medo da morte. Medo da vida. Uma faca ao lado, suja de um líquido vermelho espesso. Provavelmente ainda quente. Os gritos do lado de fora, chamando, perguntando o quê, o por quê. Na cabeça milhares de pensamentos.

And no one knows what it's like
To be hated
To be fated
To telling only lies

Memórias de quando se conheceram, flashbacks de cada encontro, da troca de sorrisos, da promessa de amizade e amor. Tudo se desvanecendo, sobrando apenas lembranças sutis de momentos juntos. Os gritos ficam mais altos, as mentiras vão caindo uma a uma.

But my dreams, they aren't as empty
As my conscience seems to be
I have hours, only lonely
My love is vengeance
That's never free

Cada uma das histórias contadas, as verdadeiras e as falsas, se tornam lágrimas em seus olhos. Os sonhos de dias felizes desmoronam diante da intrincada rede de bobagens ditas. Se há algum remorso, se mistura com a ira e o rancor. Ela não poderia ter feito o que fez.
Pega a faca, pronto para fazer o que se prometeu fazer. Passou dias pensando nisso, arquitetando uma forma de se livrar de uma vez do sentimento que apertou seu coração até espremer toda a felicidade. A vingança que o libertará de um amor cruel.

No one knows what it's like
To feel these feelings
Like I do
And I blame you

Ela fora a pior de todas, causadora de um mal tão profundo que ele não tinha palavras. O líquido pinga da faca, marcando o chão e secando em seguida. As pessoas do lado de fora tentam arrombar a porta, alguns gritam: “Não faça isso! Não!”

No one knows how to say
That they're sorry
And don't worry
I am not telling lies

Ignore-os, diz a si mesmo, eles não sabem de nada. Mas sabiam de tudo, ninguém o avisou, ninguém disse o que aconteceria. Só se importavam consigo mesmos. Agora pedem desculpas, tentam consolar, fingir que está tudo bem. Nada está bem.

No one knows what it's like
To be the bad man
To be the sad man
Behind blue eyes


Desfere o primeiro golpe, sujando de vermelho as fotos. E outro, e outro. Fica mais fácil a cada facada. A parede vai se colorindo a medida que as fotos são destruídas. Nenhuma do rosto dela fica intacta. Ele levanta, abre a porta, não há ninguém, apenas fantasmas. Vai embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário