quarta-feira, 18 de março de 2015

Uma saudade e tanto

Hoje abracei meu irmão bem forte. É a última vez em um bom tempo, já que ele foi viver seu sonho e agora está ao lado de quem gosta, em uma terra bem distante. É muito triste pra mim, mas também de grande felicidade. Ele está aproveitando, fazendo o que realmente quer. E eu só posso sorrir por ele, que vai me deixar uma saudade muito grande. Ainda nos veremos, pelos Skypes da vida e por fotos, e eu espero que seja com ele sendo o rapaz tão especial que é. Irmão, te amo, muito, e quero que saiba disso... por você, eu fiz esta homenagem.

Bem vindo à bordo

- Capitão, meu capitão!
Do alto da torre de vigia, o homem de casaca escura e cartola ousou olhar para baixo, vencendo seu medo de altura, para ver o grumete que corria a toda pelo convés, acenando com um lenço. De longe ele já sentia que iria se incomodar com a notícia que seu contratado traria, mas foi ao ouvir o estouro vindo da sala das máquinas, que aliás fez o navio tremer loucamente, que teve certeza do quão irritado ficaria.
- Smiiiiiith! O que diabos está acontecendo com minha nau?
- Capitão, é que... a caldeira explodiu!
- Como é? – esquecendo completamente que estava a quase dois metros do chão, o comandante saltou, rolando para ficar de frente ao homem – Como... vocês... argh! Quer saber? Não me diga! E... acabamos de sair da baía! Não há como voltar pra pagar um mecânico decente! Eu... não acredito!
- Mas, capitão...
- Cale-se, Smith! E agora, pelos quatro ventos, o que fazer?
- Capitão... não estamos muito longe de Porto Tempestade.
- Eu nunca mais piso naquela banheira! Eu me recuso!
- Então deixe que eu vá... – disse uma voz feminina às suas costas.
- Ugh... – o capitão virou-se devagar para encarar sua convidada indesejada – Você voltou à bordo, Anna.
- É claro que voltei, Anthony. Você sabe que não pode se livrar de mim. Ah, e consegui recuperar seu quadro, já o deixei em sua cabine. Não precisa agradecer.
- Mas foi você que o perdeu!
- Bem, paciência, eu o trouxe de volta e está lá, como se não tivesse partido.
Anthony Wolfgang se controlava para não quebrar o pescoço de Anna, uma ladina aérea que certa vez invadira sua nave e desde então frequentemente estava com eles, hora para ajudar, hora para atrapalhar. A gatuna era ao mesmo tempo um colírio para seus olhos cansados, por sua beleza estonteante, e também um tormento do qual não conseguia se livrar. No momento estava mais para essa segunda opção.
- Srta. Nightwing, serei obrigado a rejeitar sua oferta, é mais provável que esteja apenas pegando uma carona em nossa embarcação e acabe por me trazer mais problemas que soluções.
- Oh, que calúnia! – respondeu Anna com a voz afetada – Eu deveria me ofender.
Sabendo que estava sendo alvo de chacotas mais uma vez, o capitão voltou-se para Smith e pigarreou, fazendo a cara mais séria que conseguiu.
- Deixo nas suas mãos, Louis, se eu voltar e tiver algo errado... bom... não se esqueça do que fiz à James...
Smith engoliu em seco, os olhos arregalados, e balançou a cabeça em concordância. James de Grungnir era um passado recente muito claro que ficava assombrando a tripulação e ninguém gostava de tocar no assunto, ainda mais na frente do capitão.
- Ótimo. E você, srta. Nightwing, espero não vê-la quando retornar.
- Não se preocupe, você não seria capaz de me notar mesmo se eu estivesse nua em sua cabine.
Sem saber se era uma provocação mais séria ou só uma forma de vê-lo se atrapalhar com as palavras, o capitão preferiu não responder e foi direto à um dos remos à jato para dirigir-se à estação mais próxima, a enorme sucata flutuando sobre o Pacífico conhecida como Porto Tempestade. Anthony ficava relembrando as vezes em que esteve na cidadela de bronze e quantas delas partiu a toda, depois de ter puxado briga com os malditos mercadores. Nem os piratas eram tão sanguinários e ladrões.
Chegando ao hangar, procurou logo marcar um cais para que Nau Ventania pudesse esperar por reparos e partiu para dentro das vielas. Já ouvira falar de alguns dos mecânicos locais, muitos com renome até mesmo nas terras da rainha, os quais não aceitariam de forma alguma servir à Wolfgang. Por isso foi atrás de boatos e de títulos não tão nobres, como Dick “One-Eye” Silverhand e Lucian Foxy, os quais negaram de forma educada seu ouro.
- Mas...
- Desculpe-me, capitão, eu estou tentando me entender com a milícia e não pegaria bem eu me envolver com um pirata aéreo... ainda mais se o navio dele for roubado da coroa. Você terá que procurar em outro lugar.
Depois de ter a porta fechada em sua não tão honrada fuça mais algumas vezes, o capitão de Nau Ventania estava quase desistindo quando um pescador de arenques solares disse que uma prima em terceiro grau de uma amiga da cunhada da sua esposa havia conhecido um ferreiro com ares de inventor que morava na asa sul de Porto Tempestade, bem próximo dos motores mais antigos. Sem muitas ideias, o homem levou sua bengala pelos três andares desviando de alguns pobres vigias que haviam sido punidos com a ronda subterrânea até chegar ao famoso Beco da Ruína. Ali, entre duas lojas de peças usadas, encontrou uma pequena cabana de latão com uma placa que dizia “Karma’s Kuma”.
Sem bater, o capitão entrou no que parecia um museu de brinquedos dos mais diversos tipos, com um corcel de ferro em um canto, um avião em miniatura e o que poderia ser definido como um robô de seis braços encostado em uma parede. Ao fundo, envolvido por uma nuvem escura e com fuligem cobrindo quase 100% do seu corpo, um homem martelava em uma enorme chapa de aço.
- Estamos fechados!
- Não é bem o que parece. Olhe, meu amigo, indicaram que eu viesse aqui...
- Não aceito piratas! Tenho bons ouvidos, sabe? E carniceiros sem coração não tem espaço na minha parede de troféus! – respondeu apontando para os quadros pendurados ao seu lado.
Eram doze ao todo, exibindo diversos tipos diferentes de naves, dos planadores como um com uma cabeça de leão na proa até um grande cargueiro de diversas torres de comando. Todas elas tinham a imagem do ferreiro na frente abraçando alguém ao lado. Era um homem grande, como aquele ali encolhido, mas sem a máscara podia-se ver um rosto alegre, de sorriso aberto, e os olhos pequenos que denunciavam sua descendência oriental. A barba dura e o cabelo ralo eram os únicos traços do trabalho pesado que o capitão agora presenciava.
- Olhe, meu bom homem, tenho muito dinheiro...
- Não quero saber. Não vou vender minha alma por umas moedas de ouro. – o gigante se avolumou quando ficou de pé – Muito menos para o cara que explodiu quase uma centena de pessoas quando estava roubando a nave que agora está com problemas.
- Na verdade... ninguém se feriu... seriamente. Além disso, eu mirei os canhões apenas nas estruturas de metal que prendiam Ventania, assim poderia fugir rapidamente...
- Pff... e pra quê isso? Que ganância toda é essa que te leva a cometer um crime desses e sair rindo ainda por cima? Eu vi as holo-telas, sua gargalhada era mais audível que os motores, e estamos falando de dois pares de hidro-combustão de grosso calibre!
Wolfgang ficou olhando pra ele por um bom tempo, seus olhos frios e lupinos analisando a expressão braba do homenzarrão. Em seus vários anos servindo ao exército da rainha, encontrou um punhado de gente como aquela, com o coração no lugar certo, mas grande demais pra caber no peito. Já gostou dele de cara.
- Olha aqui... eu não contei isso nunca pra ninguém... mas eu tinha uma boa razão para fazer o que fiz, e ainda tenho. Há um criminoso, um muito pior que eu, que está foragido, e que eu preciso capturar. Mas ninguém na guarda real me ouviu e apenas uns poucos já ouviram falar dele e, por conta de sua identidade, preferem se manter ocultos.
- Do que está falando?
- Estou te avisando que minha missão, mais secreta do que tudo, e que me dará o perdão de sua majestade no futuro, é de prender o famigerado Asmodeus Mozart, o maior perigo que já cruzou os céus de Novaterra!
O mecânico coçou o queixo por um tempo e então pegou uma chave de boca enorme em sua caixa de ferramentas e apontou diretamente para o nariz do capitão.
- Você está me dizendo... que alguém no governo te fez virar um criminoso internacional com uma recompensa enorme para que pudesse caçar alguém ainda mais terrível que ninguém ouviu falar ainda?
- É. – disse Wolfgang simplesmente, encolhendo os ombros.
- Acredito em você. – o mecânico abriu o mesmo sorriso das fotos e estendeu a mão – Vou salvar sua nau, então.
- Ótimo! Esperava que dissesse isso. Então, está combinado em cinquenta peças de ouro?
- Puxa, eu não posso aceitar isso... mesmo meus trabalhos mais caros saíram apenas vinte peças, e isso que eu tive que cobrar pelo material...
- Ah, mas não estou falando de uma vez só, estava pensando em um soldo a cada trinta dias. E claro... parte do que pegarmos em nossas capturas. Afinal, somos piratas, não?
- Mas hein?
- Estou lhe oferecendo um lugar na minha nau, Karma, e eu sempre pago bem meus homens. Além do mais... eles provavelmente quebrariam os motores de novo, então preciso ter você ao meu lado para consertá-los.
- Eu? Me tornar um pirata?
- Se você estiver por perto, vai ter a oportunidade de ver se falei a verdade antes e de me punir se eu fizer maldades.
- É... me parece uma boa ideia. Trato feito. – apertaram as mãos – Ah, mas eu tenho que avisar... o idiota que escreveu minha placa tem uma audição horrível. Eu falei que queria Karuma Kun. Meu nome é George Karuma Alestorm.
- Bom, bem vindo à tripulação, Karuma.
- Pode me chamar de Karu, meu capitão.

6 comentários:

  1. Lindo! E conhecendo nosso panda, dá de ver como é ele mesmo nessa história.
    Parabéns e vida longa ao novo pirata!

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    1. Minha tripulação só cresce! Fico muito feliz com isso! ^^

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  2. E essa é uma tripulação que sempre vai estar lhe ajudando... Ok, as vezes atrapalhando (sorry), mas sempre ao seu lado!
    Linda homenagem, lindos sentimentos.

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    1. Obrigado, amor... isso é muito bom pra ler e... quer fazer o favor de devolver minha caixa de jóias ganha justamente no nosso últimos saque?

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  3. Que bonita e divertida homenagem Ton! Deu vontade de ler o resto da aventura! Yo Ho e uma garrafa de rum!

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    1. Ah, quem sabe eu escreva, ainda há muitos outros na minha tripulação que merecem ser apresentados! ^^ Obrigado por ler e curtir tanto!

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