terça-feira, 30 de abril de 2013

Voltando ao Bar

Devo não nego, pago quando puder. Estou atrasado, e a Ann Carnivalli já me cobrou isso algumas vezes, então prometo, aliás, JURO que vou tentar manter uma rotina mais frequente... Conseguir pensar no que escrever ajuda muito. Acredito que se tentarem comentar mais vezes eu posso tentar postar com mais frequência e vir aqui com certeza trazer algo de novo e divertido para vocês. É uma questão de ter respostas, sabe? Até lá, vou jogando meus contos e, pra variar, voltarei ao universo vampiresco que ficou comum aqui, dessa vez com um conto meio recente e interessante que encontrei perdido nos meus arquivos... Rotina de Risco pra vocês. That's All, folks!

PS: SIM, eu voltei a um bar... Sei lá, é um lugar confortável para meus personagens e minhas histórias. Aproveitem e leiam bebendo!

Procurando no DA, encontrei esta imagem PERFEITA pra representar meus bares, vindo deste perfil aqui.

Rotina de Risco


Só aprendi duas coisas de verdade depois que fui transformado. Uma é que não é muito seguro você ficar muito tempo sem se alimentar e a outra é que, se em uma caçada você cruzar com um lupino, provavelmente não caçará novamente. Em três anos nunca cruzei com um deles pra tirar a prova, mas as enormes cicatrizes do irmão de minha mentora sempre me disseram que não era realmente uma boa ideia. Assim, não tinha como saber que os lupinos poderiam não só parecer gente, como serem ruivas, gostosas e extremamente sensuais. E pior, boas de cama.
A gente se encontrou num bar, eu com um pouco de fome e ela louca pra transar naquela lua cheia. Trocamos algumas palavras, tomamos uns drinks, quero dizer, ELA tomou, e então saímos pra noite, pra ir pra algum lugar mais aconchegante. Descobri depois que os perfumes que uso impediram que ela percebesse meu cheiro de morto, e o fato do decote dela mal esconder o umbigo me distraiu do fato de ela estar a quase 40º no meio do outono. Quando descobrimos a real natureza um do outro já era tarde demais.
Se nos atacamos? É óbvio que sim! Ela havia acabado de meter as patas no meu peito e sentir que era gelado e eu tinha começado a despi-la e vi a tatuagem, então estávamos perto demais pra fingir que não poderíamos um acabar com o outro! O clima ficou pesado e eu pedi a Deus que me devolvesse a capacidade de beber e ficar bêbado. Trocaria tranquilamente uma ressaca por aquela sensação. Só que, quando finalmente nos engalfinhamos, digamos que nossos ataques não eram exatamente mortais... Nem seriam considerados ataques em algumas culturas... Ok, eles poderiam estar nas páginas do Kama Sutra.
O remorso bateu em seguida, quando já não havia mais como voltar atrás. Estávamos nus, sedentos por mais uma foda, e completamente encharcados no suor dela. Eu não conseguia olhá-la com medo de que de repente batesse a louca e ela resolvesse me estripar. Só sentia sua respiração ofegante, que fazia seus seios subirem e descerem, subirem e descerem, subirem e descerem... Sabem aquelas mulheres que você tem que se concentrar pra olhar nos olhos? Pois é...
E mesmo assim, com a culpa me corroendo mais do que água benta, e sentindo que minha mestra iria arrancar meu couro e me surrar com ele depois, eu ainda queria mais, muito mais. Nunca antes, quando seduzi mortais para me alimentar, eu sentira tamanho desejo, tanto tesão, e agora eu só queria descobrir se a posição de cachorrinho com uma loba seria a melhor que existe.
Exercendo um autocontrole fenomenal e acabando com minha força de vontade, abandonei qualquer emoção e fugi rapidamente pela porta, deixando-a aberta. Eu tinha a vantagem da arrancada de zero a cem, então aproveitei disso para só parar quando tivesse certeza de que ela não poderia, nem rastreando, me seguir. Esqueci ligeiramente que não respirava e fiquei sem fôlego, batendo com os punhos nas paredes. Um pobre coitado que estava tirando água do joelho me viu, gritou que eu tava peladão e virou minha vítima, para recompor as forças. Quem manda ser tão mal-educado.
Depois disso eu ganhei uma nova rotina: Evitar aquele bar enquanto tentava ao mesmo tempo a sorte em outros, sempre na esperança que ela fizesse o mesmo. Por duas semanas tive infrutíferos encontros com diversas garotas de todos os tipos possíveis. Alguns de nós só procuram um tipo de mulher, mas eu não sou fresco e traço todas elas. Só que havia uma vontade louca em mim de esbarrar nela de novo, mesmo que isso pudesse significar meu extermínio. Meus colegas da noite estranharam meu comportamento meio paranoico e alguns chegaram a dizer que eu havia caído na loucura dos anciões cedo demais.
Janice, minha mestra, passou a me encarar com desconfiança e cada vez mais eu tinha medo de que ela usasse seus poderes para abrir minha mente e descobrisse a minha mancada. Eu poderia ser deixado na rua pra tomar um banho de sol se isso acontecesse e dada a experiência anterior com outro colega meu, que ficou bem bronzeado, eu achava que não era uma boa.
Quando enfim alcancei o ápice da loucura, a ponto de caçar mesmo quando não tinha mais fome, eu tive o azar de acha-la em um bar qualquer. Ela estava muito mais comportada... E acompanhada de dois afrodescendentes de dois metros de altura que eu sabia de longe serem também lobisomens. Eu fiquei uns quinze minutos pensando em quão grandes eles poderiam ficar na sua forma bestial e quão rápido eu podia correr, e foi tempo suficiente para um dos dois detectar meu cheiro. Com tanta preocupação em encontra-la, acabei esquecendo de renovar meu perfume e o fedor de carcaça deve ter chego às narinas aguçadas deles.
Um virou para o outro, chamou a atenção e de repente eu me senti um completo idiota por estar sozinho no mesmo lugar que três lobos, sendo que dois deles eram grandes o suficiente para eu, no alto dos meus 1,70m, ser considerado anão. Agora eu não teria a vantagem de correr muito e certamente estaria na sarjeta antes do sol nascer, o que me pouparia de morrer queimado. Se existe algum deus pros vampiros, como Caim, Vlad Tepes ou o que for, eu rezei pra ele naquele instante.
Eles me encurralaram na saída do bar e me arrastaram pra fora. Quem nos viu achou que eu fosse ser currado por aqueles dois gigantes e eu achei que seria um destino mais digno ser espancado, o que prontamente me dispunha a, desde que ficasse perto dela. Achei justo que ela se mantivesse quieta, só acompanhando, e achei seriamente que ela ficaria ali curtindo enquanto os dois amigos dela acabam comigo. Só quando chegamos ao beco e eles se prepararam pra me bater que notei que eles esperavam uma ordem dela. E que ela não deu.
Ela só ficou ali, me olhando, me analisando de cima a baixo. Algo em seu olhar me dizia que ela poderia me devorar tanto metafórica quanto literalmente e que seu instinto estava brigando com outra coisa dentro dela pra decidir qual dos dois seguir. Ela batia os dedos nos cotovelos e os dois amiguinhos dela pareciam ficar mais e mais impacientes. Se ela demorasse demais eu poderia ser destroçado com ou sem ordem. Ela então suspirou e fez um sinal meio estranho, que fez com que os dois ficassem indignados.
- Essa presa é minha, rapazes, podem deixar comigo.
Um olhou pro outro e berraram alguma coisa em outra língua, mas ela simplesmente lançou um olhar feio e eles voltaram pra dentro com o rabinho entre as pernas. Ela então veio na minha direção e eu ainda não sabia se podia relaxar quando ela desferiu um soco no meu estômago. Vai por mim, se eu ainda comesse teria devolvido toda a minha janta.
- E isso é pra você aprender a não me deixar sozinha, seu imbecil.
Ela me puxou pra cima e me agarrou ali mesmo, sem se preocupar se eles poderiam voltar. Eu fiquei tão confuso que demorei cinco segundos pra reagir, mas até aí ela já tinha arrancado minha jaqueta. Eu a segurei pela cintura e usando um truque que me custaria caro depois, nos lancei pra cima, pousando no teto da boate. Deitei com ela e transamos loucamente, só parando quando ouvíamos os fregueses indo embora e sabíamos que logo os dois brutamontes iam procurar por ela.
- Vamos ficar nessa de nos caçar? – perguntei e fiquei feliz em ver que ela riu.
- Sem problemas, sanguessuga. Eu tenho muito tempo livre.
- Vamos acabar mortos, isso sim.
- E você tem medo de verdade disso?
Olhei pra ela, pro corpo dela, e o calor que senti, que devo dizer, minha anatomia vampírica não devia deixar que eu sentisse, me fez mudar de ideia. Valia a pena arriscar.
- Duas semanas, aquele bar perto do cais.
- Sozinho, vista algo fácil de arrancar.
- Estarei lá.
E saltei pra noite, pensando em como tudo poderia me arranjar encrenca. Eu poderia acabar morto, eu poderia simplesmente ser desintegrado por um mais antigo que achasse aquilo uma blasfêmia. Ah, tanto faz, desde que eu continuasse me divertindo. Afinal, foi pra me divertir que fiquei assim. Terceira coisa que aprendi de verdade depois da transformação: A não-vida só vale a pena mesmo quando você coloca sua imortalidade na faca. O resto é apenas vida.

7 comentários:

  1. Acabei de ler e fiquei fascinada! Sério! 'Cê sabe que eu adoro seus contos sobrenaturais e sensuais, afinal, eu sou uma das maiores incentivadoras do projeto Lua Macabra, que trabalha justamente nesse ponto. Esse pode não ser um LM mas tem aquilo que me atrai. Bom... E eu tenho uma quedinha por lobisomens, né? Ariana que me perdoe! XD Ótimo texto, parabéns!
    Ah, e obrigada por me ensinar uma palavra nova nessa história... "currado", tadinho! >.<
    Ah², sacanagem ter vampiro nos marcadores e lobisomem não! Injustiça! =P

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    1. Esqueci de marcar Lobisomem, mas já corrijo essa injustiça cruel! Ah, e que bom que curtiu, mas currado é uma palavra muito feia e podexá, nenhum personagem meu vai ser. XD Ao menos eu espero, ás vezes me surpreendo com as coisas que acontecem com eles! ;)

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  2. Boa mano.
    São textos assim que fazem ter vontade de voltar a mestrar como antigamente.

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    1. Valeu! É por essas e outras que Gangréis e Garous se misturam XD

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  3. Pausa para comentar: Sabem aquelas mulheres que você tem que se concentrar pra olhar nos olhos? (foco nos olhos, foco nos olhos, foco nos olhos...)

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    1. Sabe... Pensei exatamente nisso! XD Que bom que gostou do texto =D

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  4. Ótimo teste, envolvente e fascinante xD

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