Ou... o prólogo mais longo que eu já vi.
Aviso: Tem Spoilers da Primeira Temporada e leves da Segunda.
Antes de falar da
série, preciso citar que eu já tive em mãos Xenosaga, jogo cuja
introdução leva meia hora só de vídeo e tem direito a Pause no
meio. Então sim, eu sei o que é um prólogo longo, e Castlevania
ganha disso absurdamente. Mas estou me adiantando, porque primeiro de
tudo, tivemos os quatro episódios que venderam a série pra um
público que ficou ansiando para ver as aventuras de Trevor, Sypha e,
principalmente, Alucard. Segue comigo.Lançada em 2017 como mais
uma das muitas iniciativas de adaptação da Netflix, Castlevania
trouxe uma versão até bem fiel do material original, com uma
história curta (curtíssima, na verdade) em quatro episódios de
vinte e tantos minutos e mostrando Trevor Belmont chegando a uma
cidade no leste Europeu e encontrando o Inferno na Terra porque... os
humanos liderados pela Igreja mataram a mulher do Drácula e ele tá
pistola. Digo, MUITO pistola. A vingança de Drácula é saguinolenta
e até certo ponto desproporcional. Ele não somente mata os
principais culpados, ele estraçalha tudo e todos pela frente. Assim,
Trevor, meio contrariado, se opõe a ele e começa a batalha que
todos conhecemos.
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Mais Pistola que o Canarinho! |
Aqui deixe-me fazer um
comentário. Estou acostumado a adaptações que tomem liberdades
para deixar a história mais interessante, mas a personalidade de
Trevor foi bem diferente do que eu esperava. Seu jeito canastrão, as
respostas ácidas e o fato dele ser tão reticente em ser um herói
me pareceu o oposto do que seria um Belmont. Mas bem, é exatamente
por isso que a química entre ele e Sypha Belnades (SIM! E ELA FAZ
MAGIA!) rola tão bem, já que ela brilha onde ele esmaece. Juntos
eles conseguem dar conta de boa parte do problema que rola na cidade
até entrarem num labirinto de engrenagens que parece claramente uma
das várias masmorras do jogo, e são tantas referências que fiquei
apaixonado. Ao final, há um caixão e dentro dele... Adrian Tepes,
vulgo ALUCARD! Num final de dar água na boca nós ficamos esperando
uma segunda temporada.
E ela veio. Um ano
depois, no Halloween, recebemos mais oito episódios, a promessa de
aumentar e muito o manjar que nos davam. Só que... algo deu errado
nesse processo. MUITO errado. Sem entrar em spoilers, afinal a
temporada é bem recente, posso dizer que basicamente NADA de
importante ocorre em quatro episódios. Passamos a acompanhar de
perto o preparamento da guerra de Drácula, com a aparição de seus
generais (dos quais só um tem nome, Godbrand), e também dos
forjadores, os humanos que criam seu exército, Isaac e Hector. No
meio vampírico também aparece Carmilla, vampira linda e poderosa
cujo nome me fez ter faniquitos. Para os que não conhecem, Carmilla
é uma personagem fora de Castlevania com um mito tão rico ou mais
interessante que o do Vlad. Só que a série foca tanto no que está
acontecendo dentro do castelo que sobra pouco tempo para o trio de
heróis. E quando eles aparecem... bem, posso dizer que Sypha lê
muito. Mesmo.
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Tá vendo o Trevor no bar? É mais do que ele faz em QUATRO episódios! |
Minha crítica
principal é quanto à organização do roteiro, que se torna tão
arrastado que não consigo lembrar bem como as coisas ocorreram,
porque tinha a impressão de que não era importante. Há sim vários
detalhes sobre as vidas de Isaac e Hector, como eles pararam do lado
de Drácula e como é estranho que humanos sejam generais junto de
vampiros na missão de exterminar a própria raça, mas...
considerando os dois últimos episódios isso parece que não
importa. O ritmo é muito arrastado e particularmente desnecessário.
Quando enfim ocorre a batalha entre o trio principal e Drácula é
uma luta insana, linda, mas que parece ignorar o que ocorreu até
então.
E claro, há vários personagens particularmente
desperdiçados. Godbrand é o exemplo mór do viking-ish, aquela
pessoa que adora se chamar de viking, dizer que age como um mas na
hora do vamos ver arreda.
Todas as suas cenas se tornam enfadonhas quando chega o seu momento.
Carmilla é outra que apesar de tramar, e caramba, ela trama bem,
acaba se tornando mais uma coadjuvante antes de assumir o papel de
vilã principal e é isso. Capute.
E é por isso que falei de prólogo mais longo, são basicamente seis
episódios que parecem dar dimensão aos personagens para termos
enfim a história principal e meio que ela não acontece. E tem um
episódio inteiro pra dar resolução aos personagens. Certeza,
certeza, quando (e se) sair a terceira temporada, o resumo da segunda
não vai durar um minuto a mais do que durou o da primeira.
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Godbrand, tanto visual, nenhum conteúdo. |
No
fim das contas, por adaptar Dracula's Curse, o terceiro jogo da série
(não em ordem cronológica), Castlevania, até o momento, tinha
pouca história. Isso deve mudar caso eles ousem seguir outro Belmont
ou mesmo outra Belnades, ou talvez até outro vilão (como foi
sugerido). E claro, sempre há Symphony of the Night, o queridinho
dos fãs da série. Há todo um território vasto que eles podem
explorar. Mas por favor, fiquem longe de Lords of Shadows e
Gabriel... argh!

A dublagem é... estranha. As personagens parecem falar sempre num tom monótono e ás vezes ocorre uma modulação de voz mais trabalhada. E isso que Trevor é dublado por Richard Armitage, o furioso Thorin Escudo de Carvalho! Mas acredito que isso tenha sido uma escolha do próprio estúdio de dublagem para dar o clima sombrio da série. Agora, o que é digno de nota é que quem dá voz a Godbrand é Peter Stormare e se você não sabe de quem estou falando, ele é o próprio Satã no filme (fracassado) do Constantine com Keanu Reeves! Ahn, ahn? Por isso que ele é tão destoante do resto. Sendo justo, talvez, pelo estilo de animação, eu esperasse vozes mais... empolgantes, mas entendo também.
Por
fim, Castlevania está disponível no Netflix por tempo indeterminado
sendo uma produção deles, mas se quiser maratonar pode fazer isso
em uma tarde e talvez não pareça tão arrastado. É uma boa
sugestão para os fãs e para aqueles que gostam de histórias de
vampiro. Para o resto... assistam algum dos filmes de terror do
catálogo. Melhor.
Nota 8/10 (1ª) e 5/10 (2ª)
Pontos fortes: 1ª - Ótimo ritmo, sem enrolação, personagens interessantes e animação primorosa. 2ª - Carmilla, aprofundamento da família Belmont (com direito a referências) e o drama da família Drácula melhor trabalhado.
Pontos fracos: 1ª - Curta, muito curta, o fanservice do Alucard fica meio deslocado e parece que o Drácula soltou os bicho tudo sem plano algum (o que se prova verdade depois). 2ª - Existir... não, brincadeira, o fato de enrolar muito, perder o ritmo, desperdiçar personagens e ter um episódio inteiro de batalha pra um final morno.
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