segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Castlevania – As 2 Temporadas


Ou... o prólogo mais longo que eu já vi.

Aviso: Tem Spoilers da Primeira Temporada e leves da Segunda.


Antes de falar da série, preciso citar que eu já tive em mãos Xenosaga, jogo cuja introdução leva meia hora só de vídeo e tem direito a Pause no meio. Então sim, eu sei o que é um prólogo longo, e Castlevania ganha disso absurdamente. Mas estou me adiantando, porque primeiro de tudo, tivemos os quatro episódios que venderam a série pra um público que ficou ansiando para ver as aventuras de Trevor, Sypha e, principalmente, Alucard. Segue comigo.Lançada em 2017 como mais uma das muitas iniciativas de adaptação da Netflix, Castlevania trouxe uma versão até bem fiel do material original, com uma história curta (curtíssima, na verdade) em quatro episódios de vinte e tantos minutos e mostrando Trevor Belmont chegando a uma cidade no leste Europeu e encontrando o Inferno na Terra porque... os humanos liderados pela Igreja mataram a mulher do Drácula e ele tá pistola. Digo, MUITO pistola. A vingança de Drácula é saguinolenta e até certo ponto desproporcional. Ele não somente mata os principais culpados, ele estraçalha tudo e todos pela frente. Assim, Trevor, meio contrariado, se opõe a ele e começa a batalha que todos conhecemos.

Mais Pistola que o Canarinho!
Aqui deixe-me fazer um comentário. Estou acostumado a adaptações que tomem liberdades para deixar a história mais interessante, mas a personalidade de Trevor foi bem diferente do que eu esperava. Seu jeito canastrão, as respostas ácidas e o fato dele ser tão reticente em ser um herói me pareceu o oposto do que seria um Belmont. Mas bem, é exatamente por isso que a química entre ele e Sypha Belnades (SIM! E ELA FAZ MAGIA!) rola tão bem, já que ela brilha onde ele esmaece. Juntos eles conseguem dar conta de boa parte do problema que rola na cidade até entrarem num labirinto de engrenagens que parece claramente uma das várias masmorras do jogo, e são tantas referências que fiquei apaixonado. Ao final, há um caixão e dentro dele... Adrian Tepes, vulgo ALUCARD! Num final de dar água na boca nós ficamos esperando uma segunda temporada.

E ela veio. Um ano depois, no Halloween, recebemos mais oito episódios, a promessa de aumentar e muito o manjar que nos davam. Só que... algo deu errado nesse processo. MUITO errado. Sem entrar em spoilers, afinal a temporada é bem recente, posso dizer que basicamente NADA de importante ocorre em quatro episódios. Passamos a acompanhar de perto o preparamento da guerra de Drácula, com a aparição de seus generais (dos quais só um tem nome, Godbrand), e também dos forjadores, os humanos que criam seu exército, Isaac e Hector. No meio vampírico também aparece Carmilla, vampira linda e poderosa cujo nome me fez ter faniquitos. Para os que não conhecem, Carmilla é uma personagem fora de Castlevania com um mito tão rico ou mais interessante que o do Vlad. Só que a série foca tanto no que está acontecendo dentro do castelo que sobra pouco tempo para o trio de heróis. E quando eles aparecem... bem, posso dizer que Sypha lê muito. Mesmo.

Tá vendo o Trevor no bar? É mais do que ele faz em QUATRO episódios!
Minha crítica principal é quanto à organização do roteiro, que se torna tão arrastado que não consigo lembrar bem como as coisas ocorreram, porque tinha a impressão de que não era importante. Há sim vários detalhes sobre as vidas de Isaac e Hector, como eles pararam do lado de Drácula e como é estranho que humanos sejam generais junto de vampiros na missão de exterminar a própria raça, mas... considerando os dois últimos episódios isso parece que não importa. O ritmo é muito arrastado e particularmente desnecessário. Quando enfim ocorre a batalha entre o trio principal e Drácula é uma luta insana, linda, mas que parece ignorar o que ocorreu até então.

E claro, há vários personagens particularmente desperdiçados. Godbrand é o exemplo mór do viking-ish, aquela pessoa que adora se chamar de viking, dizer que age como um mas na hora do vamos ver arreda. Todas as suas cenas se tornam enfadonhas quando chega o seu momento. Carmilla é outra que apesar de tramar, e caramba, ela trama bem, acaba se tornando mais uma coadjuvante antes de assumir o papel de vilã principal e é isso. Capute. E é por isso que falei de prólogo mais longo, são basicamente seis episódios que parecem dar dimensão aos personagens para termos enfim a história principal e meio que ela não acontece. E tem um episódio inteiro pra dar resolução aos personagens. Certeza, certeza, quando (e se) sair a terceira temporada, o resumo da segunda não vai durar um minuto a mais do que durou o da primeira.
Godbrand, tanto visual, nenhum conteúdo.
No fim das contas, por adaptar Dracula's Curse, o terceiro jogo da série (não em ordem cronológica), Castlevania, até o momento, tinha pouca história. Isso deve mudar caso eles ousem seguir outro Belmont ou mesmo outra Belnades, ou talvez até outro vilão (como foi sugerido). E claro, sempre há Symphony of the Night, o queridinho dos fãs da série. Há todo um território vasto que eles podem explorar. Mas por favor, fiquem longe de Lords of Shadows e Gabriel... argh!

Agora detalhes técnicos. Castlevania é muito bem feito, a animação é bem fluída e as cenas de batalha são estupendas. O gore, que não sou muito fã, não é exagerado e os monstros são horripilantes e amedrontadores. Senti uma certa perda de qualidade na segunda temporada com alguns ângulos bizonhos e falhas de anatomia, mas nada que faça virar o nariz. A caracterização dos personagens é ótima e tanto os heróis quanto os vilões são memoráveis. Ás vezes a altura do Drácula varia, passando de um cara alto pra um poste, mas vou dar um migué, o cara flutua e tem capa de três metros, vai que ele estava só zoando.

A dublagem é... estranha. As personagens parecem falar sempre num tom monótono e ás vezes ocorre uma modulação de voz mais trabalhada. E isso que Trevor é dublado por Richard Armitage, o furioso Thorin Escudo de Carvalho! Mas acredito que isso tenha sido uma escolha do próprio estúdio de dublagem para dar o clima sombrio da série. Agora, o que é digno de nota é que quem dá voz a Godbrand é Peter Stormare e se você não sabe de quem estou falando, ele é o próprio Satã no filme (fracassado) do Constantine com Keanu Reeves! Ahn, ahn? Por isso que ele é tão destoante do resto. Sendo justo, talvez, pelo estilo de animação, eu esperasse vozes mais... empolgantes, mas entendo também.

Por fim, Castlevania está disponível no Netflix por tempo indeterminado sendo uma produção deles, mas se quiser maratonar pode fazer isso em uma tarde e talvez não pareça tão arrastado. É uma boa sugestão para os fãs e para aqueles que gostam de histórias de vampiro. Para o resto... assistam algum dos filmes de terror do catálogo. Melhor.


Nota 8/10 (1ª) e 5/10 (2ª)
Pontos fortes: 1ª - Ótimo ritmo, sem enrolação, personagens interessantes e animação primorosa. 2ª - Carmilla, aprofundamento da família Belmont (com direito a referências) e o drama da família Drácula melhor trabalhado.
Pontos fracos: 1ª - Curta, muito curta, o fanservice do Alucard fica meio deslocado e parece que o Drácula soltou os bicho tudo sem plano algum (o que se prova verdade depois). 2ª - Existir... não, brincadeira, o fato de enrolar muito, perder o ritmo, desperdiçar personagens e ter um episódio inteiro de batalha pra um final morno.

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