terça-feira, 28 de abril de 2015

Caos de pensamentos

Andei bem, bem ocupado. Muitas coisas pra fazer, pouquíssimo tempo pra resolver. Deveria estar dormindo agora, mas quem disse que consigo assim, tão fácil? Precisava publicar aqui, é um dever pessoal contar histórias, eu sinto uma necessidade bem grande disso. Lamento pelos atrasos, mas prometo compensar com textos melhores. Quem sabe não posso ser do agrado de vocês com maior frequência?

Pra aqueles que não sabem, saiu um conto meu em uma antologia erótica! Já tenho o livro em mãos, chama-se Clímax - Faça-me chegar lá!, e meu conto é aquele que encerra a história, "No Meio da Tempestade". Eu pude finalmente relê-lo agora publicado e me impressionei. Fui eu mesmo quem escreveu isso? É de arrepiar, o primeiro que consigo transformar em trabalho impresso. Vai pra minha estante ao lado das NeoTokyos em que tive textos. Se alguém tiver interesse, ainda tenho alguns exemplares pra vender e... quem só quiser ler meu texto, estou sempre com uma cópia do livro na mochila! Só pedir!

O que trago hoje acabei de escrever. Decidi que queria trazer algo lá de dentro e acabou saindo esta pequena historinha, minha versão do Conto de Natal. Sinceramente, é um dos tipos de história que mais gosto e espero que vocês também apreciem lê-lo! Até!

-*-X-*-

Carmem era uma mulher bela, decidida, forte, obstinada... e também o tipo de pessoa que não se aguentava, que tinha diversos defeitos as quais insistia em demonstrar aos outros. Por isso mesmo que, Natal vinha, Natal ia, passava a madrugada seguinte sozinha, bebendo em seu apartamento no Leblon, de onde poderia admirar as festanças lá embaixo, bem lá embaixo, onde as pessoas pareciam formigas fazendo o que quer que formiguinhas fizessem e sinceramente ela achava isso uma bosta. Como sempre veria um filme, olharia alguns filmes com seus atores pornôs favoritos e então dormiria feliz abraçada a uma garrafa de uísque, para voltar à rotina no dia seguinte. Mas não este ano.
O primeiro a visitá-la chegou à meia-noite em ponto, trazendo consigo um bom vinho, uma caixa de bombons licorados e um pacote de camisinhas, uma dúzia delas. Seu sorriso encantador, seu corpo másculo de traços delicados e seus olhos sedutores derreteram o bloco de gelo que era o coração de Carmem naquela noite. Precisou apenas de cinco minutos para levá-la para a cama e durante os cinquenta seguintes a apresentou às mais diversas perversões, muitas das quais foram ouvidas pelos poucos vizinhos ainda no prédio. As marcas na pele de Carmem durariam semanas, mas a festa acabou logo antes da uma.
E então veio a segunda, e trajava a mais horrenda das combinações de camiseta e saia. Seu semblante era fechado e dolorosamente consternado, perfeito nas suas falhas, e muito triste. Mais uma vez afogou suas mágoas na bebida, o vinho que já estava ali e se encararam silenciosamente, uma batalha de caretas que terminaria em um desânimo tão profundo quanto amedrontador. Por vezes seus olhos escapavam para as facas da cozinha, a janela da sacada e os remédios para dormir. Quando as duas horas finalmente soaram no relógio, sentiu0se aliviada.
Veio então uma súbita alegria, e de repente não estava só. Uma doce garotinha havia entrado e contava histórias sobre suas adolescências, os namoradinhos, um cachorro falante e uma viagem louca pelo interior de São Paulo, no qual encontraram a fonte da juventude, motivo pelo qual seriam jovens pra sempre! Viu-se dançando, valsando, cantando e pulando e então a cama foi bagunçada ainda mais e parecia que poderia se entregar às suas maiores vontades. Rasgou alguns contratos, escreveu cartas para seus amigos, aqueles que nem lembrava que tinha e gritou da janela o quanto achava gostoso ser enrabada pelo chefe e então... então passou. E se viu olhando para o céu noturno.
E a via-láctea pareceu brilhar mais às três da manhã. Cometas viajaram pelos céus enquanto o futuro se abria ao seu redor. Estava em uma sala de reuniões, mas não era ela mesma quem falava, era o garoto que havia entrado na empresa há menos de um ano e que agora era o líder do departamento. Concordava com tudo, mesmo odiando saber que ele estava sendo um idiota e que nada daquilo renderia bons frutos simplesmente porque não era original. Carmem seria muito melhor... se tivesse feito mais do que deixar-se ser levada por suas manias, por suas fraquezas, pelas palavras doces e falsas dos outros. Sem filhos, marido, rumo, um fóssil, engessada no meio de um monte de gente ainda mais depressiva.
E então lembrou-se das coisas que queria aos dezoito anos, quando teve a brilhante ideia de abandonar o que queria fazer de verdade para conseguir aquele cargo na empresa do tio de um amigo. Levantou-se e foi até o armário resgatar alguns cadernos de desenho, folheou as páginas, rememorando as conversas com suas amigas, os contos que fizeram, as histórias que inventaram e imergiu nos mundos fantasiosos de antes. Sorriu, sinceramente, pela primeira vez em muito tempo. As lágrimas correram e o coração parou, de repente.
Não sentiu bater, o corpo entrou em torpor, a mente vagueou. Estava olhando de cima, jogada, largada, abandonada. Em paz. Ninguém mais lhe dizendo o que ou como fazer, as cobranças indo, e também... também... todas as oportunidades. E tudo que não viveu? E as viagens? E os passeios por Copacabana, apenas para encontrar uns rostos conhecidos e saírem para beber no fim de semana? O vazio trazia o frio. Não estava mais engraçado. Uma mão estendida a aguardava, e um semblante branco, bonito e gentil lhe dizia que ficaria tudo bem. Muito cedo, querida, pensou, e então retornou.
A fúria veio montada em um cavalo negro como um bárbaro de tranças carregando um machado. Gritou e vandalizou os móveis tão bem trabalhados, riu e destruiu os relatórios que havia escrito e preencheu páginas e páginas de contratos assinados com as palavras “Mentiroso” e “Vadio” entre outras coisas bem piores. Gargalhou até cair cansada no meio do quarto, e à sua volta um mar... um mar de destruição. Como sempre, depois veio a criação. Pegou as folhas rasgadas e as reuniu. Tirou do fundo da gaveta um conjunto de pincéis e tinta e por cima de tudo pintou um rosto. Seu rosto. Carmem se projetou com o mesmo sorriso de dez anos antes. Feliz e alegre. E então pode sorrir desse jeito novamente.

Feliz Natal, Carmem.

3 comentários:

  1. Amei, adoro contos de reencontro, seja com os outro, seja consigo mesmo. Nunca esquecer seus sonhos, lutar para não ser engolido pelo mundo são coisas lindas para se falar e necessárias de ser mostradas ao mundo!

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    1. Que bom que gostou, esse conto contém tantos segredos que eu adoro ver como eu consegui trabalhar bem eles... Fico feliz que você entenda sobre seguir sonhos! ^^

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  2. Amei, adoro contos de reencontro, seja com os outro, seja consigo mesmo. Nunca esquecer seus sonhos, lutar para não ser engolido pelo mundo são coisas lindas para se falar e necessárias de ser mostradas ao mundo!

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