sábado, 11 de maio de 2013

Magia do Cinema

 Ontem repeti um programinha muito legal que queria que ficasse permanente: Ir ao cinema quinta feira com as queridas Ann Carnivalli e Ari. Sério, as duas vezes foram demais, garotas, muito obrigado pela ótima sessão. Mas, dessa vez saí do cinema motivado a escrever uma resenha, algo inédito a trazer pra cá. Bom, espero que vocês consigam ver o quanto apreciei Anna Karenina. Com vocês, minha primeira resenha aqui.

Anna Karenina

O teatro é um espaço sagrado para as histórias, pois entre suas três paredes, e ás vezes além delas, em contato com o público, histórias podem ser contadas com poucos recursos, muita imaginação e interpretações dignas. Anna Karenina, do romance de Liev Tolstoi, é um dos espetáculos que depende muito mais dos personagens do que da história em si, e com elenco recheado, tanto surpreende quanto encanta e também decepciona, tudo a seu tempo.
A trama gira ao redor da personagem título, interpretada por Keira Knightley, e seu affair com um conde, o que causa escândalo na Rússia Czarista dividindo opiniões entre os liberais e os religiosos e muito mais além, mas o foco do filme está na chaga criada na família Karenin e no romance forte com Vronsky. Apesar de não gostar da atuação automática de Knightley, sua dedicação em tornar Anna tão agradável quanto desprezível é realmente o melhor do seu trabalho. Cada olhar dela, cada expressão de “Oh!” quando uma oportunidade surge, e cada delírio quando seu mundo começa a desmoronar é de cortar o coração e servir como petisco.
Olhando desse jeito, até parece que ela é um doce de pessoa...
Em contraponto, seus dois amores, o certo Karenin (Jude Law, fantástico) e o incerto Vronsky (Aaron Johnson), são excepcionais. O fato de o nome dos dois ser pronunciado da mesma forma, o que rende uma cena agoniante e vergonhosa para a pobre Anna, é a única conexão deles além da paixão pela protagonista. Aleksei Alexandrovich Karenin é um homem sério, justo, de pensamento avançado e também sentimentos nobres, que não sabe como proceder no caso de adultério e se vê confrontado por um mundo que nunca lhe passou diante dos olhos. Law dá ao personagem uma interpretação formidável e se sentimos pena dele quando Anna o humilha ou raiva quando ele se vê cercado e faz a escolha fácil, é tudo mérito do olhar firme mas triste do ator.
Esse visual até me lembrou um certo Doutor Watson.
Já Aaron Johnson, cujo único papel que conhecia era do garoto que apanha pra caramba em Kick-Ass, aproveita exatamente do seu ar de novato, de recém-saído da juventude. Aleksei Vronsky é o auge do furor do homem novo que Anna sem saber procura. Não há medo no seu olhar, nem mesmo incerteza, já que no fundo não há guias. Ele faz o que quer, quando quer e como quer... Ao menos até que seja levado pelas mãos pro destino que sua mãe decidiu. Não sei dizer se Johnson esteve formidável no papel ou se o diretor o colocou em uma situação confortável, mas na primeira metade do filme seu personagem rouba a cena em todos os momentos que aparece.
Esse bigodinho é ridículo, mas ele se revela um conquistador.
E já que falei de personagens, no outro núcleo, do irmão de Anna e de onde surge Vronsky, há outros dois personagens que me chamaram tanta atenção quanto e dos quais gostei mais: Kitty (Alicia Vikander) e Levin (Domhnall Gleeson). O segundo é conhecido pelo papel de William “Bill” Weasley na série Harry Potter, mas Vikander me era desconhecida... Ainda que agora eu passe a prestar mais atenção nela. Seus personagens giram uma segunda história, afetada pela de Anna. Kitty esperava ser desposada por Vronsky, em um plano previamente arquitetado pela Condessa Vronsky, e por isso despreza Levin. Mas quando ela é deixada em Moscou por Vronsky que correu atrás de Anna, sua personagem sofre um profundo abalo e aos poucos, tanto ela quanto Levin vão mudando, sem perder essência. Toda a sequência do encontro de Levin com seu irmão nos subúrbios da cidade, do conhecimento da prostituta que vive com ele e da renovação do personagem nos campos é um arco fantástico demais pra ser ignorado.
Esses olhos são lacrimejantes e encantadores.
Aliás, talvez a grande estrela do filme sejam os cenários mutantes, todos bem trabalhados para girarem ao redor dos personagens, sem tirar deles o brilho. A sequência inicial, um plano contínuo que começa em um teatro e mostra a empresa de Oblonsky, o irmão de Anna, e sua casa, além de um restaurante é de tirar o chapéu. Por mais esquizofrênica e alucinada que seja, a sensação é de imersão, um balé em que os personagens, por pouco, não transformam em ópera, cantando suas falas. Ponto alto do filme, o baile em que Anna e Vronsky dançam é belo e triste, seja pelos olhos de Karenina, deslumbrada, quanto pelos de Kitty, decepcionada.

Essa é uma das cenas mais lindas do filme. Uma montagem doce e bem elaborada.
A trilha sonora contribui muito neste segundo caso. Por mais absurda que uma cena seja, como a invasão de Anna à própria casa em busca do filho, as notas não nos deixam enganar, e sabemos que aquele é um momento de sofridão. Lágrimas podem correr dos olhos de todos enquanto aos poucos o mundo de Karenina vai se tornando mais escuro (em contraste ao seu vestido que passa do negro pro branco e do branco pro vermelho em cenas chave) e o de Kitty mais claro e amplo. O final, repetindo uma pequena parte da coreografia inicial, encerra o espetáculo com louvor e nas cadeiras do cinema nós deixamos o teatro. Felizes, pelos personagens, mas tristes pela história.

4 comentários:

  1. Eu gostei muito desse filme! Nunca tinha visto uma filmagem daquelas, com cenários mudando na forma de um teatro, e sinceramente, Anna Karenina tem a aura de uma mulher que pode por aos seus pés todos os homens que quiser. Quando a vejo em suas roupas escuras e olhar de mulher madura e sagaz, penso logo de cara em uma femme fatale que conhece os prazeres da vida e se aproveita deles!

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    1. A filmagem simplesmente foi demais mesmo. Bom, como eu disse, acabo confundindo um pouco personagem com atriz, mas ela é sim uma mulher femme fatale extremamente perigosa. XD

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  2. Digo pra vocês que nos primeiros momentos do filme eu me senti tonta, não esperava por essa mutação nos cenários e levei um instante para pegar o ritmo da coisa e me deleitar com o filme. No figurino eu fiquei encantada pelos acessórios, chapéus, véus, colares, casacos... Sai de lá querendo comprar tudo na primeira loja do shopping! ^^ É um filme fascinante. Pra mim é um filme estado unidense que "imita" o estilo do cinema do circuito europeu, como se a linha do filme fizesse mais curvas e firulas que o padrão mais comum pra cá. Entende?

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    1. Sim, estamos muito acostumados com as tramas lineares e bem pouco espessas dos filmes estado-unidenses (não que seja o padrão, mas é o mais popular nos cinemas), e Anna Karenina, parte culpa do livro, parte do roteiro do filme, segue de outra forma. Foi isso que me agradou no filme em relação à história, já que a história em si... Bem, como disse o Arthur, é uma "história de menininha" (pena que ele não comentou isso aqui... ¬¬). De qualquer forma, façamos mais sessões dessas! ^^

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