domingo, 28 de agosto de 2016

Uma missão ingrata e quase suicida


Demorei um pouco para postar isso aqui pois estava... receoso se conseguiria colocar tudo que pensei do filme em um texto só. Bom, pelo tamanho desse post vocês podem ver que não, não consegui. Ele está GIGANTE. Leiam por sua conta e risco, tem spoilers.

Desde que o primeiro Homem de Ferro fez sucesso o cinema da DC Comics tenta emular parte da fórmula, seja o universo compartilhado seja a linguagem. Reduzir os filmes atuais da gigantesca casa de Batman e Superman a isso seria injustiça, no entanto, é difícil desfazer as comparações quando Esquadrão Suicida nos apresenta takes curtos com temas musicais quase estourando as caixas de som, ao estilo de Guardiões da Galáxia. Como fã de ambas as editoras, não posso fechar os olhos (e principalmente os ouvidos) ao que estão me jogando. É como um imenso videoclipe com pequenos trechos de narrativa clara ao longo das duas horas de exibição. E este é só um dos problemas.

Fui ver por cortesia de um cliente da loja, que me cedeu um ingresso e assim pude arrastar a Ann pra me acompanhar na jornada inglória. Quando anunciaram Esquadrão Suicida e ainda mais quando vi as primeiras imagens, em minha cabeça haviam elementos conflitantes: bons atores mas de uma escalação meio duvidosa, por conta do peso de suas carreiras, aliado a um problema da Warner em achar sua linguagem cinematográfica. Então, o primeiro trailer nada empolgante, o segundo megalomaníaco e a intensa divulgação que repetia uma série de jargões que não me fazia sentido. Fui ao cinema com expectativa baixa. E nisso não me decepcionei.

Para quem estiver boiando, um breve resumo: Esquadrão Suicida fala de Amanda Waller, uma agente governamental de alto escalão, e sua Força Tarefa X, um grupo de vilões presos que para reduzir suas penas e sob ameaças constantes de sua empregadora, aceitam formar uma equipe dos PIORES entre os piores e fazer missões que são, na explicação didática do apelido, suicidas. No geral é uma equipe com membros rotativos já que alguns morrem e outros conseguem se livrar das garras da Waller. Trazer para a tela uma trama dessas seria bem complicado, arranjar um vilão pra eles que acertasse o grande público seria mais difícil ainda. E é aí que entra o primeiro erro deles: Magia.

Parece um grupo legal... se essa cena não tivesse ficado cômica pelos motivos errados.
Não falo do elemento mágico, já que em nenhum momento o filme se dá ao trabalho de explicar El Diablo e Crocodilo juntos do Pistoleiro e do Capitão Bumerangue, teoricamente humanos sem poderes. Mas sim da personagem que foi usada apenas para ser uma vilã com um plano bocó. Digo, Barão Zemo não foi exatamente um gênio em Guerra Civil, mas até ali havia uma carga dramática por trás. Assim como a maior parte dos outros defeitos de Esquadrão Suicida, Magia não tem tempo suficiente para demonstrar o que realmente quer ou sente e fica apenas com cenas de dancinha e exibindo o corpo lindo de Cara Delevigne. Momento vergonha.

Mas calma! Já que estou falando de exibições inúteis, deixem-me ter um instante para respirar fundo e não sair falando mal da Arlequina. Não, não foi porque Margot Robbie atuou mal, pelo contrário, eu tava quase pulando na tela para me unir a ela e rir um bocado. Também não foi a caracterização, que apesar da calcinha que ousaram chamar de shorts, estava muito boa e bem fiel ao espírito (teve até tempo... olha só... para easter egg da roupa clássica). O grande problema é que apesar da sobre-exposição dela no filme, pouco se trabalha da Harley em si. Ela é engraçada, louca (como repetem a exaustão), cruel quando quer, um doce em outros momentos, violenta e apaixonada pelo Coringa. Muito. O que na verdade faz parte de sua persona, pelo menos na maior parte dos quadrinhos até hoje. O problema é que as cenas dela com ele se mostram um filme romântico. E é isso.

Personagem maravilhosa... se não estivesse fora de esquadro.
Entendimento geral: A relação de Harley e Coringa é, em suma, doentia. Ele transforma sua já frágil psique em uma outra coisa, a coloca em situações de risco absurdas, a tortura, maltrata. E principalmente, a usa. Mas não é o que vemos em Esquadrão Suicida e, tenho certeza, agora entendo porque tanta gente passou a endeusar o casal. Saco, quase ME convenceu. Por mais que o trabalho de Margot tenha sido excelente, sua personagem foi desperdiçada por estar lá pra validar o Coringa. Sério, se tirar ela de lá parece que não faria diferença!

Aliás... aí falamos de outros tão maltratados quanto. Qual a razão da Katana estar no filme? Digo, suas aparições se resumem a olhares feios, um tanto de palavras em japonês, perguntas irritadas de "devo cortar ele?" e deu. Nem o trabalho da personagem em si, que era proteger um deles, funcionou. Nas DUAS vezes que ele foi pego, cadê ela? Considerando o tanto de potencial que tem a personagem isso chega a ser ofensivo.

Muitos dos atores mal podem mostrar seu potencial graças ao corte grotesco do filme. Lembra que falei antes de videoclipe? Pois é, há execuções de cena que parecem terem sido feitas no ritmo das músicas em vez de o contrário. Simplesmente tudo ocorre em segundos e fica por isso mesmo, se aceita, não se discute. Qual o sentido de Flag ser um escoteirão se ele aceita o que a Waller faz, e ainda com o comentário brilhante do Pistoleiro de "e eu que sou o vilão"?

Se alguém me desse esse olhar eu PEDIA pra ser jogado dentro da cela na hora!
Falando nele... O Pistoleiro de Esquadrão Suicida é como se esperaria do Lloyd que eu conheço: metido a esperto, durão, marrento, com panca de líder, atirador excepcional e... podendo ser coração mole de vez em quando. Sua falha? É o Will Smith. Não me entendam mal, ADORO o Will, seus filmes me fazem rir e chorar, ás vezes ao mesmo tempo. Só que eu não esperava ver ele na tela, e sim o Pistoleiro. E ele nos entrega muito da sua atuação típica nesse caso, exatamente o mesmo problema do Robert Downey Jr. como Tony Stark. Fica bom? Fica. Mas é o ator sendo ele mesmo.

A melhor atuação no filme todo com certeza é da Viola Davis. Sua Amanda é irritante, prepotente, controladora, megera, filha de uma meretriz e... brilhante. Sério, por mais estúpidos que sejam seus planos (e são, Deus, como ela ERRAAAAA), a personagem parece ter sido impressa em 3D usando páginas dos quadrinhos. Esqueçam a Amanda Waller de Arrow e seu lábio repuxado, aqui temos uma mulher que cai, mas levanta atirando com uma metralhadora. Fabulosa.

Só para não dizer que não falei dele, Jared Leto. Esqueçamos por um momento qualquer merda que ele faça fora do seu trabalho, eu quero só falar de sua atuação. É bem injusto tentar fazer um paralelo entre ele e Heath Ledger. São dois ambientes diferentes, duas situações muito díspares e com certeza dois estilos opostos. Ledger, em grande parte endeusado pela infelicidade de seu falecimento, criou um Coringa cru, nascido de uma Gotham fria e hermética gerada pela presença do Batman, ele é o desafio máximo ao morcegão, e quase um Deus EX Machina para justificar tudo que acontece em Cavaleiro das Trevas Ressurge. Leto é um MC Guimé na metanfetamina.

O sorriso de quem sabe que não precisava desse filme pra ficar famoso... mas ó... rendeu hein?
Não, brincadeira, eu só queria repetir a piada. O Coringa de Leto não tem NADA do de Ledger. Ele é até independente do Morcego, não precisaria ter o conflito entre ele e o Batman no filme. Na realidade ele nem precisava estar no filme, mas isso são outros quinhentos e como ele está, precisa ser avaliado. Seu tempo em tela é grosseiramente superior ao de Katana, Capitão Bumerangue e do Crocodilo (que tem a melhor fala do filme... seu lindo). E o que ele mostra? Um Coringa inteligente, mas perdido em sua paixão pela Arlequina e é só isso que ele faz o filme todo. É até estranho vê-lo como um mafioso com um séquito tão fiel. Mas está lá, as brincadeiras insanas, a risada, os planos estapafúrdios... é o Coringa. Eu o reconheci. Ele só não tinha que estar ali. Se fosse em OUTRO filme, talvez eu até o apreciasse.

No geral Esquadrão Suicida faz um desserviço. Apresenta personagens sem se aprofundar, cria impressões que o público não vai esquecer tão cedo e DEVERIAM ser melhor trabalhadas, estraga bons momentos porque sim e ainda deixa um gancho que... não precisava. O filme até mente graças ao seu trailer! TALVEZ, assim como Batman VS Superman, a versão extendida traga um pouco de redenção. Mas se serve de conselho, evite o filme nos cinemas, assista em casa, sem compromisso, e apenas se você já gostar da DC e dos quadrinhos. Se não, fique longe.

2 comentários:

  1. Queria deixar aqui meu comentário de quem só ouviu do filme e não teve vontade nem tempo de ir ver:

    Ouvi muito de gente reclamando que o Coringa mal estava no filme, mas você falou que ele tava no filme mais que Katana, Crocodilo e Capitão Bumerange... Então eles tiveram o que, dois minutos de filme?

    Outro ponto: Já não sou fã de filmes que embelezam e idolatram vilões, principalmente se um desses vilões é um psicopata tipo o Coringa. Mas pior ainda é cuspir na cara do que a Harley passa nos quadrinhos. Abusada e muitas vezes ignorada, tendo dois ou três momentos que o Coringa manipula ela a acreditar que há algo entre os dois, só pra ele jogar na cara dela que ele nunca gostou dela ou achou ela bonita, e subemeter ela a um tratamento que nem os piores dos vilões merecem, acho que fazer um filme que aborda os dois sendo românticos é no mínimo não ter coragem de abrir uma HQ e querer só fazer dinheiro, o que é nojento e repugnante.

    Pra quem ver meu comentário, vou explicar aqui uma coisa.
    Harley Queen sofre HORRORES pelo Coringa, ela é inteligente e forte, mas nas garras do Palhaço Maluco, ela não passa de um objeto sexual. Ah é, não esqueçamos que ele teve sexo com ela pra logo em seguida ignorar ela, fazendo ela fugir por um ano inteiro, só pra ela voltar e ele dizer "Ah, você tava sumida? Nem notei. Então, fez o que pedi?". Ela teve uma filha. Que ela teve de deixar com sei lá quem, longe da vida dela, indo visitar às vezes.

    Vai te foder, Coringa.

    Mas ela tem uma continuação feliz. Atualmente ela espancou o Coringa, deixando ele perto da morte pra jogar na cara dele "Se eu te ver MAIS UMA VEZ eu faço questão de matar você."
    E ela tá namorando a Poison Ivy, e um outro random que nem lembro o nome.


    Mas onde eu queria chegar com isso mesmo? Ah é.

    Warner, ou faz pesquisa dos personagens que tu usa ou o pessoal só vai reclamar.

    Beijos <3

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    1. Como fã da Harley fico feliz de você ter pesquisado tanto, maninho. Sim, eu não quis me estender na crítica sobre a Arlequina pois ficaria centrado nisso e Esquadrão Suicida não é um filme só dos dois, mas esse é o ponto. A Warner foi covarde em mostrar a relação deles como algo louco mas romântico, evitando debater sobre o sofrimento da personagem ao lado dele. Mais do que isso, fazendo um desserviço quanto à mensagem que a Harley carrega. Essa história da filha é de Injustice, mas também é uma das provas que não precisa ser do arco principal para que esse assunto seja repassado, e isso lembrando que Injustice é baseada em um dos jogos de videogame.
      A relação dela com a Ivy é melhor construída que toda a baboseira do filme, e isso que não é tão bem explorada. Mas está lá.
      Obrigado pelo comentário, mano!
      Beijos =*

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