quarta-feira, 25 de março de 2015

Ótimos personagens vão bem com qualquer coisa

Ontem, por influência da Ana, que também fez uma postagem em seu circo, eu acabei fazendo um texto emocionado com nossos personagens de Tormenta RPG, em história na qual EU sou o mestre... pra variar. Mas, excepcionalmente mesmo, ás vezes eu consigo ser jogador, e nessas raras ocasiões eu me empolgo MUITO com personagens que crio, dando a eles histórias mais complexas e, se puder, escrevendo sobre. Quem trago hoje é o Padre Thomas, um brujah da Idade Média que se embrenhou na igreja pra construir seu exército justo. Infelizmente pra ele, no meio do caminho, surgiu um...

Pequeno Incômodo

Eu senti a criatura antes de vê-la sair das sombras. Era pequena, de aparência ignóbil e provavelmente pareceria uma criança escrava não fosse o fato de ser feita de escuridão. Tomaria por uma ilusão facilmente. Veio rastejante, as garras esfregando no chão produzindo um som agudo e maldoso. Daria medo a provavelmente a maior parte dos devotos dessa igreja. Mas não a mim, principalmente porque de longe eu era mais forte do que ele.
Por seu tamanho e também por parecer um pouco confuso eu o domei facilmente, colocando meu joelho sobre sua... nuca? E seus braços pendiam quase imóveis esmagados pelo meu punho. Ele guinchou, aparentemente surpreso pela inversão de papéis.
- Ai, ui! Larga! LARGA!
- Vejo que fala minha língua, criatura abissal. O que me espanta mais até do que sua aparição.
- Ai! Solta, seu... seu... padre fajuto!
- Para um diabrete seu vocabulário de impropérios é bem limitado, não?
- Quer que eu xingue sua mãe? Se for pra me soltar posso até ofender seus futuros filhos!
- Eu estou morto, imbecil, e não, eu vou lhe manter preso.
- Você não pode fazer isso!... pera... você não pode mesmo... eu... posso ficar intangível!
E se livrou de mim, voltando a ser um espectro e se materializando próximo, mas com as mãos levantadas em defesa. Pelo jeito compreendeu que caso ficasse físico provavelmente eu o pegaria de novo. Mais esperto do que parece.
- Então... o que você quer em meus aposentos? Imagino que não tenha vindo para ser humilhado livremente... ou vocês, servos do demônio podem se dar a esse luxo?
- Sua alma, é claro! Eu poderia fazer um bom uso dela!
- Eu pensei ter perdido a alma quando fui transformado em um servo de Caim... você está me dizendo que ainda a tenho?
- Mas é claro! Acha que porque agora você rouba a dos outros você deixou de ter sua ligação espiritual com Deus? É uma alma bem sujinha, mas por que não? Ela vai servir pra cumprir minha cota!
- Você tem um linguajar estranho... e achei que não pudesse falar o nome do Senhor, mas bem... não terá minha alma, criaturinha tola. Ela me pertence e não vou cedê-la a um verme tão infeliz.
- Que maldade! Só porque eu sou pequeno... sofro muito por isso, viu?
- Oh, como lamento saber...! Agora deixe-me, preciso terminar uma carta para o príncipe de Yorkshire.
- Vejo que está ocupado, então vou... atrapalhar! – ele pulou de onde estava para cima da minha escrivaninha, derrubando a tinta sobre meus papéis – Ah, que desastrado! Veja o que fiz!
- Quer ser capturado novamente, seu imbróglio?
- Que palavra feia, padre! Talvez eu nem precise me esforçar muito pra ter sua alma.
- Tenho pena de você, demoninho... aparentemente não percebe sua insignificância. Se quiser me incomodar, fique à vontade, mas se ficar ao alcance da minha mão, parto-lhe em dois. Não desafie um brujah.
- Ah, que medo... epa!
Saltou antes que eu pudesse pegá-lo, mas ficou muito mais atento e também recolhido. Suas costas pareceram se fundir às sombras, como se fosse se tornar uma delas.
- Quase, padre!
- Eu lhe avisei.
- Ah, padre... não faça isso... vamos, temos que ser amigos... eu vou roubar sua alma algum dia.
- Precisará se esforçar muito para isso, janota.
- Ei, o que eu disse de palavras feias?
- Percebo que você não é muito culto, Astolfo.
- Como é?
- Se pretende continuar me perseguindo e não posso me livrar de você... apesar de que talvez eu ainda possa realizar um exorcismo... então quero lhe nomear. Sabe, nomes tem poder.
- Astolfo?
- Exato.
- Tá de sacanagem, né chefia?
- Se compreendi bem, sim, você merece um nome ridículo para acompanhar essa forma.
- Você diz... assim?
Astolfo se moldou, crescendo exponencialmente e ocupando um espaço maior da cela, mas não o suficiente para eu não perceber o truque. Sua constituição me pareceu a mesma, um tanto ampliada e portanto apenas ilusória. Falsa. E fraca.
- Continua servindo muito bem, Astolfo. Agora, saia de meus aposentos.
- Eu vou lhe esmagar, seu humano inútil!
- Nem que realmente houvesse ficado maior.
- Quer tentar! – e derrubou alguns livros meus – Vê?
- Regna terrae, cantate deo, psállite dómino...

Em instantes ele havia sumido, desaparecido completamente. Mas algo me dizia que ele voltaria para me atormentar em outro momento. Peguei outro pergaminho e uma nova pena com um tinteiro e voltei a escrever minha correspondência. No fundo, por mais chato que ele pudesse ser, ainda era insignificante demais para eu me importar. Por hora.

4 comentários:

  1. Padre Thomas tem muito potencial! E eu sou a primeira de seu séquito, para lutar em seu nome! Foi um jogo legal, nas raras vezes que você joga eu adoro estar ao seu lado. Não prometo, mas um dia quem sabe eu não consigo lhe contar alguma história... Quando eu tiver mais confiança! Até lá, aproveitemos os momentos e continue apresentando seus personagens, conto é o que não falta!

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    1. Verdade, ainda tenho muito material. Eu quero mesmo jogar mais vezes XD Quem sabe, quem sabe.

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  2. Se a Elisabeth soubesse de metade disso, ficaria horrorizada! (o que não seria novidade...)
    Foi um jogo muito legal mesmo, concordo com a Ana, acho que podíamos ter mais aventuras com esse grupo.

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    1. Se QUALQUER um soubesse disso DEVERIA ficar horrorizado. XD O Astolfo é terrível, e a Ari tornou ele duas vezes pior.

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