quinta-feira, 11 de julho de 2013

Uma bela imagem

Eu não tinha NADA preparado pra hoje, nem ao menos uma linha que pudesse me dar um texto descente. Mas daí, subitamente, uma Wild Ariana me aparece com uma imagem que simplesmente desperta uma ideia que não poderia perder e dá-lhe página em branco do Word! Conclusão? Um conto novo, quentinho, para vocês aqui. E é um que eu realmente gostei de fazer. Espero que gostem! A imagem que gerou tudo está ao fim do texto e vocês vão entender o porquê.

A Mulher na Cripta

Noites de tempestade são extremamente desagradáveis, e não falo isso por ser um adepto de sair e me divertir, mas porquê trabalho com filmes e não há nada pior do que gravar de noite e ficar com medo de a energia acabar e nos vermos com horas de trabalho perdido. Seria mais simples se tivéssemos um bom orçamento mas, já que filmamos terror quase classe C, então não posso mesmo pensar em ter um estúdio e equipamento de ponta. Fico muito feliz por ter uma câmera e bastões de luz suficientes para conseguir fazer uma cena no meio do cemitério.
A tal cena, aliás, é o grande problema. A chuva cai e já inunda tudo do lado de fora do mausoléu que invadimos para filmar e eu acho que os cabos, que o nosso único técnico de filmagem, som e qualquer coisa que não seja principal, colocou em cima de alguns túmulos, já devem estar debaixo d’água, então em breve é capaz de eu acabar me juntando aos defuntos por eletrochoque. E pra finalizar, nossa atriz principal está fazendo doce no “camarim” improvisado, uma tenda que conseguimos montar no morrinho do lado de fora.
O rolo é com o maldito figurino e eu sempre soube que ele causaria atrito entre ela e o roteirista depravado que o diretor arranjou. Desde o primeiro dia ele veio com ideias que envolviam mulheres nuas, cenas de soft porn, sangue tipo catchup, cabeças decapitadas e um vampiro carniceiro, do tipo que faria Freddie Krueger se orgulhar de ter como professor. Era mais do que o necessário para a namorada do técnico, que foi a única garota a aceitar se meter nessa treta, começar a ter chiliques e ameaçar desistir várias vezes.
Agora ela estava lá, sendo convencida pelo namorado super seguro de que aquele biquíni obsceno tampava o suficiente para ela poder vestir branco quando casassem e que estava tão escuro que era capaz de ninguém notar que era ela. Eu confirmo essa informação, com a precariedade do material e a maquiagem enjambrada, eu poderia dizer que era a Madonna ou a Adele sem medo de errar. E claro, não me importaria em descobrir o que há por trás dos dez quilos de roupa fechada que ela usa. Dependendo do caso, poderia valer todo o esforço.
- Ei, John. – me chama o diretor. – Vem cá um minutinho?
- Fala, Arthur. – respondo, me aproximando, e percebo que ele treme muito.
- Cara, me quebra um galho? Acabei de ouvir, houve uma espécie de acidente perto de casa. Duas gangues brigando, algo assim. Pessoas ficaram muito feridas. Meu pai é policial, ele tava de ronda... Eu preciso ir...
- Claro! Vai lá! A gente pode parar a filmagem, não fica...
- Não! Paguei muito caro no aluguel, a guria tá quase caindo fora e se a gente sair agora, capaz de não conseguir invadir isso outro dia. Precisa ser agora!
- Tá, tá, eu faço tudo aqui. Só leva aquele maluco do roteiro junto pra te dar uma mão. Senão é capaz de eu encher ele de porrada.
- Tudo bem, valeu, você é um grande amigo.
E sai levando o Abraham juntos. Acabamos ficando só eu, o técnico e a namorada dele. Começo a arrumar tudo, imaginando o que poderia dar errado ou quanto tempo mais eles iriam demorar quando escuto o som de abrindo a porta e o barulho do vento lá fora. Não há nenhum passo na escada, mas eu consigo escutar o som de véus arrastando nos degraus. Quando me viro, me deparo com uma Lúcia completamente paramentada, em um biquíni que faria as garotas daqueles programas de tevê corarem e um roupão transparente que não deixa dúvidas a como ela é gostosa. Engulo em seco e ela sorri, e é um sorriso lindo. Paro pra pensar em como o técnico é sortudo, em como ela faz pra esconder tudo isso e em que estamos sozinhos, o que é extremamente perigoso. Até os caninos falsos ficaram perfeitos.
- Ok, vejo que está pronta. Podemos começar? – e ela concorda muda. – Como a gente disse antes, essa é uma cena simples. Você precisa andar pela cripta, parar na frente do caixão que está ali e começar a chorar. Eu vou cortar, mudar o ângulo e mostrar lágrimas de sangue que eu tenho aqui no bolso. Não vai doer nem nada, é só um corante pra derramar perto dos olhos. Aí paro de novo, você dá um berro e fechou por aqui. As externas a gente pode filmar depois, e você não precisa aparecer. Fechou?
Ela simplesmente abre outro sorriso que me deixa desconjuntado. Que mulher maravilhosa, e aquele namorado nada ciumento não estava agora ali para aproveitar a visão. Tá, tudo bem, provavelmente ele a veria depois em casa e acho que o biquíni vai acabar ficando pra eles, mas... Nada vai me estragar o momento. Levanto a câmera e ela faz seus movimentos, muito suaves, parando exatamente no ponto certo. Não precisaríamos repetir a cena. Em seguida eu mudo de posição para colocar as lágrimas falsas e esbarro em sua pele, gelada, provavelmente pelo tempo ruim.
- Desculpa mesmo pela escrotice do Abraham. Vou falar pro Will que ele nunca mais deve escrever nada pra gente. É só que agora... Não dá pra mudar, entende?
Pelo olhar ela deixou de ligar há muito tempo e até mesmo parece estar se divertindo. Minha mão acaba deslizando pela face dela e fico parado, alguns segundos, o que provavelmente vai render comentários depois dela com o Morrisson. Afasto-me e gravo aquelas lágrimas falsas escorrendo e elas demoram tanto pra descer e parecem em tanta quantidade que até me assusto, como se ela estivesse chorando de verdade. E mais uma vez troco de posição e a filmo gritando, e o que vem em seguida nunca mais vou esquecer. O grito é como o de uma banshee e posso dizer que até mesmo quem estava longe do cemitério pode ouvir. É profundo, amargurado e realmente triste.
E finalmente, as coisas ficam estranhas de vez, mas não paro de filmar. O caixão simplesmente se abre e sai alguém de lá, e é um homem. Nesse momento eu estou pensando em como esses filhos da puta armaram para cima de mim e colocaram o Morrison lá dentro sem que eu visse e agora estavam me deixando morrendo de medo. Ele puxa Lúcia para si e dá o beijo mais arrepiante da minha vida, que me deixa aterrorizado e excitado ao mesmo tempo. Eles se afastam e ela vem até mim e também me beija, mas mais delicada, como uma despedida. Em seguida eles saem, e eu posso jurar que a tempestade parou por um segundo e escutei risadas macabras. Eu demoro muito tempo pra me mexer e desligar a câmera e então subir as escadas correndo.
Lá fora a chuva é torrencial, posso ver os clarões ao longe onde caem os raios e até mesmo um incêndio, talvez provocado por um deles. Na tenda, Morrison e Lúcia parecem discutir e ela está com o casaco dele. Ando até eles para tirar satisfações quando percebo algo caído no chão, o biquíni dela solto, uma peça abandonada. Pego-o e entro na tenda.
- Ei, vocês dois! Que ideia foi aquela de improvisar na cena? Sabe como vocês me deixaram assustado? E ainda jogaram o biquíni na lama! E se tiver que filmar de novo?
- Que história é essa, cara? A gente tava discutindo agora mesmo porque ela tinha jogado o biquíni fora de raiva e achamos que não ia dar mais pra filmar!

A resposta me deixa encucado, será que eles continuam com a brincadeira? Só então percebo que a Lúcia sentada ali e encolhida está tremendo de frio e tem grandes olhos azuis focados em mim e os olhos da mulher na cripta eram negros. Negros como a noite de tempestade.

Venha a mim, meu pobre mortal.

6 comentários:

  1. Okay, gostei, realmente um conto perfeito para o nosso Lua Macabra! Ele disse que poderia confundir a Madonna com a Adele, né? Bom, fiquei curiosa com o que ele filmou... Será que os vampiros apareceram? Queria ver esse filme classe C com os melhores atores possíveis!

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    1. Quem sabe não reúno gente suficiente para fazermos NÓS esse filme C, hein? XD E usei duas ídolas aleatórias, que achei que dariam asas à imaginação dos leitores. Fico muito feliz que tenha apreciado a nova empreitada do nosso projeto, espero que eu o conclua algum dia! XD

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  2. Fico feliz em saber que as mulheres sensuais que eu te mando servem pra algo mais alem da apreciação visual xD e o conto ficou muito bom! eu adorei! :3

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    1. Que bom que bom! XD Continue mandando material, espero que isso me inspire de novo! XD Eu fiquei muito empolgado e acabou fluindo tudo de uma vez. =3 Valeu de novo Ari XD

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  3. sCara, eu consegui visualizar toda uma cena em algum cemitério dos Estados Unidos. O terror quase classe C, a garota gostosa, o roteirista pervertido e tudo mais...
    E até fiquei com curiosidade para saber como ficou a filmagem xD

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    1. Rapaz, pelo jeito eu PRECISO gravar esse filme, nem que seja só essa cena! XD E principalmente, fico feliz de ter conseguido repassar essa cena pra vocês e conseguirem captar a empolgação.

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