Acho que é a terceira vez que posto esse texto, a segunda em um blog. Da outra vez, eu tive uma experiência muito tranquilizante de conseguir publicar um conto que mexeu tanto comigo. Espero ter o mesmo dessa vez, apesar de pelo motivo diferente. Eu realmente gosto da ideia de que ás vezes possa pegar textos antigos e eles ainda tenham validade, principalmente ESTE, que hoje continua tão romântico e belo... Pelo menos pra mim. Então, dedico-o a todos os apaixonados, loucos ou não, tolos ou não, ou que simplesmente estejam a fim de ter um romance, por mais bobo que ele seja. E sejam felizes. Para acompanhar, a música que me inspirou.
All Star
O quarto bagunçado. Os lençóis jogados
no chão. O ventilador se mexendo lentamente. O som tocando baixo uma
música dos anos 90. O All-Star azul, único objeto verdadeiramente
colorido, depositado sobre a cômoda, um alienígena organizado em meio ao
caos. Dois corpos estirados ao chão, quase imóveis, descansam. Ele é
quem abre os olhos primeiro, focalizando o tênis e sorri.
O sol a pino e os cadernos sobre a mesa não eram a melhor combinação para aquele final de ano. O pior era manter a concentração com a mente ocupada em outro lugar. Naqueles All-Star azuis, surrados mas ainda belos, que haviam dominado seus pensamentos nos últimos tempos. Aliás, o All-Star era apenas o prenúncio daquele pequeno e delgado corpo claro, revestido com a calça jeans e a camiseta de uniforme, completado pelos negros cabelos caindo pelas costas. Todo o conjunto pulava de cena em cena dentro da cabeça dele, sem dizer uma palavra, apenas acenando ou dançando conforme a música. Bufou tentando lembrar mais uma vez da fórmula para encontrar o cosseno tendo o seno.
O barulho do sinal avisando do final da terceira aula lhe despertou de qualquer devaneio. Sabia que aquilo significava menos chances ainda de conseguir manter a atenção no caderno de matemática. ELA estaria descendo a escada em instantes, feliz com a possibilidade de ficar ao menos vinte minutos longe das carteiras de madeira, superaquecidas pelos 32º que registrava o termômetro do outro lado da rua. Desistiu definitivamente de continuar tentando e guardou, sem pressa, o material na mochila velha. O ano de diferença que separava os dois é que definia que ele teria dois turnos no colégio, ao invés do único dela, pela manhã.
Saindo pela porta da biblioteca levou um susto ao reconhecer duas vozes que dobravam a esquina. Pegou o fiapo de um final de conversa.
- ... passo na sua casa hoje. É na rua das Laranjeiras, não é? Que número e andar?
- 507. Eu moro no 1204. É só tocar que eu desço. Não esquece de levar o xerox dos textos de português.
- Tá, mas...
Não conseguiu continuar ouvindo. Elas tinham virado a esquina e ele se deparou com aqueles dois grandes olhos... Azuis como o All-Star. Perdeu-se no mar ali contido. Sentiu o rosto ficar vermelho quando eles lhe fitaram e desviu a vista, só para olhar de canto de olho em seguida e encontrá-los novamente, apenas para eles desviarem agora. Elas seguiram e ele as acompanhou, desviando o olhar para aqueles All-Stars que tanto lhe atraiam. Claro que não percebeu que ela olhou para trás mais uma vez, muito menos que ela sorriu de leve.
Sabia onde morava, sabia qual era seu apartamento. Puxa! Até sabia o que ela faria à tarde! Mas... O que fazer com isso?
Ironia ou não, em breve as informações forem úteis. Os três anos do médio iam participar de um evento fora do estado e ele fora, sumariamente, escolhido para a comissão. O que ele não sabia antes de ficar brabo com a decisão é que ELA também era da comissão. Por causa da coincidência eles teriam que se encontrar. Só que ela ficou doente. O bastante para não ir ao colégio. Teria que ir até a casa dela. Entendeu?
Tremendo ele checou novamente o endereço anotado em uma folha de caderno. A rua das laranjeiras era pacata, mais residencial do que comercial, com apenas dois prédios em lados opostos. Um cinza, antigo e mal-cuidado, e o dela, imponente em seus doze andares. Óbvio que ela morava na cobertura! Onde mais seria? Ele pensou duas vezes. Quem sabe não deveria esperar que ela melhorasse? Quase deu meia-volta, correndo para o ponto de ônibus. QUASE.
Entrou no elevador, apertando com nervosismo o botão do elevador. Enquanto subia pelos doze andares ele sentiu que não era o calor que o fazia suar. Muito menos o tremelique do elevador que não o deixava quieto. Assim que a porta abriu achou que deveria voltar para buscar seu estômago lá no térreo. O curto corredor parecia quilométrico enquanto andava até o 1204. Tocou a campainha. A porta abriu.
- Ei! Que surpresa! - disse ela com a voz anasalada - A Tânia me contou que você foi o escolhido do terceiro ano. Que sorte, hein?
Ele paralisou. Ela vestia uma camiseta jogada, azul como seus olhos e o tênis, que agora não calçava. Mesmo usando calças moletom e com aquelas olheiras de cansaço ela parecia linda. Diabos, como alguém pode parecer linda doente?!?
- Ah... É. Por isso... Eu vim aqui... - e sentiu vergonha de continuar - E para ver como você estava.
- Puxa, obrigado! Ah, entre! Desculpa, eu fico muito desligada quando gripo. - ela riu sem graça - Meus pais não estão em casa, mas a Júlia, nossa empregada, está na cozinha.
- Eu achava que você tinha um irmão. - deixou escapar e se amaldiçoou pela enorme boca.
- E tenho! Só que ele passa o dia quase todo na faculdade. Sabe como é, trabalhos, namorada e essas coisas.
- É, imagino. O terceiro ano já é bem puxado.
- Vamos pro meu quarto, é mais sossegado. - e ele pensou o que seria mais sossegado do que aquela enorme e silenciosa sala? Preferiu ficar quieto.
O quarto dela era tudo que ele não pensava. Haviam pôsteres de bandas de rock nas paredes, a cama era bagunçada e o armário era marfim com azul ao invés de rosa. Será que ela não errou de quarto com o do irmão?
- Não estranha não. Eu não sou muito arrumada mesmo. - ela disse e se jogou na cama. - Sobre o que você veio falar?
Engasgou, pensou, engasgou de novo, revirou os olhos, pensou se seria possível engasgar uma terceira vez e acabou soltando um suspiro.
- Tá, admito derrota. Não sei exatamente nada sobre o assunto. - enrolou.
- Ok, você tá perdoado. Eu também não sei. - ela riu.
- Eu pensei que você fosse me dar uma luz. - ele arriscou, aproveitando a deixa.
- Só se for uma lanterna vagabunda que eu tenho em algum lugar daquele armário. - ela retrucou e ele não conteve o riso.
- Então somos dois perdidos. E agora?
- Você tem que perguntar tudo pra mim? - ela fingiu indignação. - Certo, tudo bem, temos que fazer alguma coisa ou serão três turmas para esganar a gente. Seis se contarmos as dos outros períodos. Aliás... Não deveria ter vindo mais gente com você?
Pronto! Encurralado! Que desculpa ele iria dar? Péssima idéia de vir ali despreparado. Óbvio que ela ia perguntar dos outros!
- Ahn... O pessoal... Da tarde vai se organizar entre eles e depois vêm falar com a gente. - escapou de uma - E... Eu não conheço o guri do primeiro ano, então... Não consegui falar com ele e esperava que você o conhecesse. - mentiu.
Ela pareceu ponderar a questão, erguendo a sobrancelha como ele só pensava que se fizesse em filmes. Por fim, ela sorriu.
- Fugindo do dever hein? Bem... Realmente seria chato ter muita gente aqui comigo nesse estado.
- Você não está nada mal... - ARGH! Cianureto por favor!
- Brigada. - Respondeu ela corando um pouco.
Instalou-se o silêncio enquanto ele procurava observar o quarto inteiro para não olhar diretamente para ela. Sem perceber, ela fazia o mesmo, encarando os pés dele. Só depois de um tempo é que ele notou os All-Star azuis, distintos do quarto, postados aos pés da cama. Preparou-se para um comentário quando ouviu ela rir baixinho. Fez cara de quem não entendia.
- Ah... É só que... Eu reparei nos seus tênis... All-Stars. Como os meus. - ela disse, enrolando um dedo no cabelo liso.
- É... É moda agora né? Juro que comprei antes de todo mundo usar! - ele brincou, erguendo as mãos. Ela sorriu.
- Acredito. É um modelo clássico. Mas... Cano alto?
- Eu gosto. É diferente. E aquece mais quando tá frio.
- Mas é um saco no verão... Tipo agora!
- É sim...
- Seus All-Stars combinam com os meus. - ela disse de repente, de cabeça baixa.
- É? Não tinha percebido. - ele murmurou.
- Sabe... - ela começou ainda sem olhar para ele. - Você é legal.
- Va-valeu. Você também é bem legal.
Ele havia ido para a frente, insconscientemente, e eles estavam pertos... Até demais. Ele podia sentir o calor do corpo dela, acreditando que era por causa da gripe. Talvez febre. Ela sentia que ele suava frio, e achou que fosse pela temperatura do ambiente seco. Ergueu os olhos e acabou hipnotizando-o, sem querer. Lambeu os lábios e engoliu em seco.
Ele foi para a frente, completando o trajeto e eles se encontraram por instantes. Longos instantes. Sabor de sal, ela pensou. Parece... O mar. Se afastaram, arfantes. Ela mais do que ele. Eles se encararam, incrédulos, tremendo de leve. Ela caiu de costas, o peito subindo e descendo agitado. De repente ela sentiu falta de ar. Se ajeitou na cama e olhou para ele com os olhos semi-cerrados.
- Desculpe... É a gripe. - ela sorriu.
- Tudo bem. Você tem que descansar. Eu... Já estou de saída. A gente conversa amanhã?
- Claro. A gente se fala amanhã. Eu não te dou um beijo... - ela começou e engasgou - No rosto quero dizer!... Porque... Bom, cê tá vendo como eu estou!
- Fica tranquila. Inté.
E ele saiu. Sozinha no quarto ela suspirou.
No intervalo ele saiu mais depressa da biblioteca do que nunca. Tinha visto que ela viera para o colégio e parecia bem melhor. Queria (TINHA) que encontrá-la. Curioso: Foi vê-la debaixo da laranjeira da escola, sentada na sombra com aqueles mesmos All-Star azuis se destacando das roupas quase monocromáticas. Sentou-se ao seu lado com estrondo, quase fazendo com que ela pulasse.
- Você quer me matar como a gripe não fez é? - ela brincou.
- De jeito nenhum! Eu só queria saber como você estava.
- Bem melhor. Eu consegui dormir bastante depois que você saiu. E o remédio fez efeito.
Eles se calaram, olhando as pontas dos pés.
- Ahn... Quer voltar lá em casa hoje? - ela perguntou, acanhada, abraçando o próprio tronco.
- Pode ser... Pra quê?
- Me fazer companhia oras! Eu ainda estou convalescente!
- Ah sei...
- E também... Pra gente terminar aquele assuntou de ontem.
Ela ficou vermelha e ele entrou na competição. Mesmo quem estava de fora perceberia que os dois estavam mais do que envergonhados.
- Então... Eu tenho que ir. Marquei de conversar com algumas amigas para tirar umas dúvidas já que estive doente. Té mais tarde!
Quando entrou na Rua das Laranjeiras ele não estava só nervoso. Sorria por dentro e por fora, ansioso. Entrou no prédio voando. O elevador pareceu lerdo e tocar a campainha foi um sufoco. Foi ela quem abriu hoje também. E estava melhor do que ontem. Sem as olheiras, vestia uma camiseta mais leve, de banda, uma calça jeans, não aparentando nada ser a gripada do dia anterior.
- Oi. - disse ela de forma muito delicada, talvez um pouco tonta.
- Oi. Calor hein? - ele disse.
- Pois é. Quer entrar? Não... Desculpa, pergunta idiota. Entra aí.
Dessa vez ela não disse para irem para o quarto. Já estavam lá quando ele pensou no assunto. Ela se sentou na cama de novo e ele foi para a cadeira. Ficaram quietos, sem saber o que dizer. Ele reparou que os All-Stars não estavam aos pés da cama e estranhou. Onde ela teria colocado? Como que lendo sua mente ela riu e apontou para a cômoda. O par estava ali, como um troféu.
- Achei que ele merecia um lugar de destaque... Depois do efeito que teve ontem...
Foi a senha que ele esperava. Encurtou o espaço entre eles e caiu de joelhos. Ela riu, mas sem interrompê-lo. A altura dos dois atrapalhou um pouco então ela também foi para o chão, de joelhos. Deitaram, sem querer puxando os lençóis e ficaram assim por um tempo. Pararam para respirar.
- Por... Quê? - perguntou ele.
- Não sei. Mas eu senti vontade ontem e hoje ela só aumentou. Parece que... Fiquei com sede de você.
Ele riu. Fecharam os olhos curtindo-se por um tempo. Ele foi o primeiro a abrir, focalizando os danados dos All-Star azuis. Sorriu.
O sol a pino e os cadernos sobre a mesa não eram a melhor combinação para aquele final de ano. O pior era manter a concentração com a mente ocupada em outro lugar. Naqueles All-Star azuis, surrados mas ainda belos, que haviam dominado seus pensamentos nos últimos tempos. Aliás, o All-Star era apenas o prenúncio daquele pequeno e delgado corpo claro, revestido com a calça jeans e a camiseta de uniforme, completado pelos negros cabelos caindo pelas costas. Todo o conjunto pulava de cena em cena dentro da cabeça dele, sem dizer uma palavra, apenas acenando ou dançando conforme a música. Bufou tentando lembrar mais uma vez da fórmula para encontrar o cosseno tendo o seno.
O barulho do sinal avisando do final da terceira aula lhe despertou de qualquer devaneio. Sabia que aquilo significava menos chances ainda de conseguir manter a atenção no caderno de matemática. ELA estaria descendo a escada em instantes, feliz com a possibilidade de ficar ao menos vinte minutos longe das carteiras de madeira, superaquecidas pelos 32º que registrava o termômetro do outro lado da rua. Desistiu definitivamente de continuar tentando e guardou, sem pressa, o material na mochila velha. O ano de diferença que separava os dois é que definia que ele teria dois turnos no colégio, ao invés do único dela, pela manhã.
Saindo pela porta da biblioteca levou um susto ao reconhecer duas vozes que dobravam a esquina. Pegou o fiapo de um final de conversa.
- ... passo na sua casa hoje. É na rua das Laranjeiras, não é? Que número e andar?
- 507. Eu moro no 1204. É só tocar que eu desço. Não esquece de levar o xerox dos textos de português.
- Tá, mas...
Não conseguiu continuar ouvindo. Elas tinham virado a esquina e ele se deparou com aqueles dois grandes olhos... Azuis como o All-Star. Perdeu-se no mar ali contido. Sentiu o rosto ficar vermelho quando eles lhe fitaram e desviu a vista, só para olhar de canto de olho em seguida e encontrá-los novamente, apenas para eles desviarem agora. Elas seguiram e ele as acompanhou, desviando o olhar para aqueles All-Stars que tanto lhe atraiam. Claro que não percebeu que ela olhou para trás mais uma vez, muito menos que ela sorriu de leve.
Sabia onde morava, sabia qual era seu apartamento. Puxa! Até sabia o que ela faria à tarde! Mas... O que fazer com isso?
Ironia ou não, em breve as informações forem úteis. Os três anos do médio iam participar de um evento fora do estado e ele fora, sumariamente, escolhido para a comissão. O que ele não sabia antes de ficar brabo com a decisão é que ELA também era da comissão. Por causa da coincidência eles teriam que se encontrar. Só que ela ficou doente. O bastante para não ir ao colégio. Teria que ir até a casa dela. Entendeu?
Tremendo ele checou novamente o endereço anotado em uma folha de caderno. A rua das laranjeiras era pacata, mais residencial do que comercial, com apenas dois prédios em lados opostos. Um cinza, antigo e mal-cuidado, e o dela, imponente em seus doze andares. Óbvio que ela morava na cobertura! Onde mais seria? Ele pensou duas vezes. Quem sabe não deveria esperar que ela melhorasse? Quase deu meia-volta, correndo para o ponto de ônibus. QUASE.
Entrou no elevador, apertando com nervosismo o botão do elevador. Enquanto subia pelos doze andares ele sentiu que não era o calor que o fazia suar. Muito menos o tremelique do elevador que não o deixava quieto. Assim que a porta abriu achou que deveria voltar para buscar seu estômago lá no térreo. O curto corredor parecia quilométrico enquanto andava até o 1204. Tocou a campainha. A porta abriu.
- Ei! Que surpresa! - disse ela com a voz anasalada - A Tânia me contou que você foi o escolhido do terceiro ano. Que sorte, hein?
Ele paralisou. Ela vestia uma camiseta jogada, azul como seus olhos e o tênis, que agora não calçava. Mesmo usando calças moletom e com aquelas olheiras de cansaço ela parecia linda. Diabos, como alguém pode parecer linda doente?!?
- Ah... É. Por isso... Eu vim aqui... - e sentiu vergonha de continuar - E para ver como você estava.
- Puxa, obrigado! Ah, entre! Desculpa, eu fico muito desligada quando gripo. - ela riu sem graça - Meus pais não estão em casa, mas a Júlia, nossa empregada, está na cozinha.
- Eu achava que você tinha um irmão. - deixou escapar e se amaldiçoou pela enorme boca.
- E tenho! Só que ele passa o dia quase todo na faculdade. Sabe como é, trabalhos, namorada e essas coisas.
- É, imagino. O terceiro ano já é bem puxado.
- Vamos pro meu quarto, é mais sossegado. - e ele pensou o que seria mais sossegado do que aquela enorme e silenciosa sala? Preferiu ficar quieto.
O quarto dela era tudo que ele não pensava. Haviam pôsteres de bandas de rock nas paredes, a cama era bagunçada e o armário era marfim com azul ao invés de rosa. Será que ela não errou de quarto com o do irmão?
- Não estranha não. Eu não sou muito arrumada mesmo. - ela disse e se jogou na cama. - Sobre o que você veio falar?
Engasgou, pensou, engasgou de novo, revirou os olhos, pensou se seria possível engasgar uma terceira vez e acabou soltando um suspiro.
- Tá, admito derrota. Não sei exatamente nada sobre o assunto. - enrolou.
- Ok, você tá perdoado. Eu também não sei. - ela riu.
- Eu pensei que você fosse me dar uma luz. - ele arriscou, aproveitando a deixa.
- Só se for uma lanterna vagabunda que eu tenho em algum lugar daquele armário. - ela retrucou e ele não conteve o riso.
- Então somos dois perdidos. E agora?
- Você tem que perguntar tudo pra mim? - ela fingiu indignação. - Certo, tudo bem, temos que fazer alguma coisa ou serão três turmas para esganar a gente. Seis se contarmos as dos outros períodos. Aliás... Não deveria ter vindo mais gente com você?
Pronto! Encurralado! Que desculpa ele iria dar? Péssima idéia de vir ali despreparado. Óbvio que ela ia perguntar dos outros!
- Ahn... O pessoal... Da tarde vai se organizar entre eles e depois vêm falar com a gente. - escapou de uma - E... Eu não conheço o guri do primeiro ano, então... Não consegui falar com ele e esperava que você o conhecesse. - mentiu.
Ela pareceu ponderar a questão, erguendo a sobrancelha como ele só pensava que se fizesse em filmes. Por fim, ela sorriu.
- Fugindo do dever hein? Bem... Realmente seria chato ter muita gente aqui comigo nesse estado.
- Você não está nada mal... - ARGH! Cianureto por favor!
- Brigada. - Respondeu ela corando um pouco.
Instalou-se o silêncio enquanto ele procurava observar o quarto inteiro para não olhar diretamente para ela. Sem perceber, ela fazia o mesmo, encarando os pés dele. Só depois de um tempo é que ele notou os All-Star azuis, distintos do quarto, postados aos pés da cama. Preparou-se para um comentário quando ouviu ela rir baixinho. Fez cara de quem não entendia.
- Ah... É só que... Eu reparei nos seus tênis... All-Stars. Como os meus. - ela disse, enrolando um dedo no cabelo liso.
- É... É moda agora né? Juro que comprei antes de todo mundo usar! - ele brincou, erguendo as mãos. Ela sorriu.
- Acredito. É um modelo clássico. Mas... Cano alto?
- Eu gosto. É diferente. E aquece mais quando tá frio.
- Mas é um saco no verão... Tipo agora!
- É sim...
- Seus All-Stars combinam com os meus. - ela disse de repente, de cabeça baixa.
- É? Não tinha percebido. - ele murmurou.
- Sabe... - ela começou ainda sem olhar para ele. - Você é legal.
- Va-valeu. Você também é bem legal.
Ele havia ido para a frente, insconscientemente, e eles estavam pertos... Até demais. Ele podia sentir o calor do corpo dela, acreditando que era por causa da gripe. Talvez febre. Ela sentia que ele suava frio, e achou que fosse pela temperatura do ambiente seco. Ergueu os olhos e acabou hipnotizando-o, sem querer. Lambeu os lábios e engoliu em seco.
Ele foi para a frente, completando o trajeto e eles se encontraram por instantes. Longos instantes. Sabor de sal, ela pensou. Parece... O mar. Se afastaram, arfantes. Ela mais do que ele. Eles se encararam, incrédulos, tremendo de leve. Ela caiu de costas, o peito subindo e descendo agitado. De repente ela sentiu falta de ar. Se ajeitou na cama e olhou para ele com os olhos semi-cerrados.
- Desculpe... É a gripe. - ela sorriu.
- Tudo bem. Você tem que descansar. Eu... Já estou de saída. A gente conversa amanhã?
- Claro. A gente se fala amanhã. Eu não te dou um beijo... - ela começou e engasgou - No rosto quero dizer!... Porque... Bom, cê tá vendo como eu estou!
- Fica tranquila. Inté.
E ele saiu. Sozinha no quarto ela suspirou.
No intervalo ele saiu mais depressa da biblioteca do que nunca. Tinha visto que ela viera para o colégio e parecia bem melhor. Queria (TINHA) que encontrá-la. Curioso: Foi vê-la debaixo da laranjeira da escola, sentada na sombra com aqueles mesmos All-Star azuis se destacando das roupas quase monocromáticas. Sentou-se ao seu lado com estrondo, quase fazendo com que ela pulasse.
- Você quer me matar como a gripe não fez é? - ela brincou.
- De jeito nenhum! Eu só queria saber como você estava.
- Bem melhor. Eu consegui dormir bastante depois que você saiu. E o remédio fez efeito.
Eles se calaram, olhando as pontas dos pés.
- Ahn... Quer voltar lá em casa hoje? - ela perguntou, acanhada, abraçando o próprio tronco.
- Pode ser... Pra quê?
- Me fazer companhia oras! Eu ainda estou convalescente!
- Ah sei...
- E também... Pra gente terminar aquele assuntou de ontem.
Ela ficou vermelha e ele entrou na competição. Mesmo quem estava de fora perceberia que os dois estavam mais do que envergonhados.
- Então... Eu tenho que ir. Marquei de conversar com algumas amigas para tirar umas dúvidas já que estive doente. Té mais tarde!
Quando entrou na Rua das Laranjeiras ele não estava só nervoso. Sorria por dentro e por fora, ansioso. Entrou no prédio voando. O elevador pareceu lerdo e tocar a campainha foi um sufoco. Foi ela quem abriu hoje também. E estava melhor do que ontem. Sem as olheiras, vestia uma camiseta mais leve, de banda, uma calça jeans, não aparentando nada ser a gripada do dia anterior.
- Oi. - disse ela de forma muito delicada, talvez um pouco tonta.
- Oi. Calor hein? - ele disse.
- Pois é. Quer entrar? Não... Desculpa, pergunta idiota. Entra aí.
Dessa vez ela não disse para irem para o quarto. Já estavam lá quando ele pensou no assunto. Ela se sentou na cama de novo e ele foi para a cadeira. Ficaram quietos, sem saber o que dizer. Ele reparou que os All-Stars não estavam aos pés da cama e estranhou. Onde ela teria colocado? Como que lendo sua mente ela riu e apontou para a cômoda. O par estava ali, como um troféu.
- Achei que ele merecia um lugar de destaque... Depois do efeito que teve ontem...
Foi a senha que ele esperava. Encurtou o espaço entre eles e caiu de joelhos. Ela riu, mas sem interrompê-lo. A altura dos dois atrapalhou um pouco então ela também foi para o chão, de joelhos. Deitaram, sem querer puxando os lençóis e ficaram assim por um tempo. Pararam para respirar.
- Por... Quê? - perguntou ele.
- Não sei. Mas eu senti vontade ontem e hoje ela só aumentou. Parece que... Fiquei com sede de você.
Ele riu. Fecharam os olhos curtindo-se por um tempo. Ele foi o primeiro a abrir, focalizando os danados dos All-Star azuis. Sorriu.
Adorei. Quando você me marcou, achei estranho, então olhei o link, e assim que vi o tamanho dele pensei "aaaa não Ton, muita coisa para ler xD" estava quase fechando a página quando pensei "A, não custa perder 5 minutos, se o Ton me marcou, acho que ele realmente quer que eu leia" e sério, não me arrependi *-*. Conto muito bom mesmo Ton, parabéns \o/
ResponderExcluirEu o escrevi ainda na faculdade e acabei postando só um tempo depois, muito empolgado com a música. Simplesmente muito relaxante de escrever. ^^ Fico muito feliz que tenha gostado e achei que devia marcar o casal, porque seria bom! ^^
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBoa, curti! Me trouxe de volta uns sentimentos da adolescência.
ResponderExcluirE a ideia é bem essa, o sentimento de adolescência, e a franqueza de sentimentos. ^^
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