Eu ouvi tantas vezes que não se é possível conquistar alguém
sem tentar se aproximar, sem fazer o mínimo de esforço. Muitos de nós se sentem
incapazes de dar este primeiro passo, sorrir, perguntar se quer tomar um café e
iniciar uma conversa. Dói o medo e a dor causa o pavor. É muito assustador
pensar que se pode quebrar o coração de forma tão frágil assim com um simples
“não”.
Luciana se aproximou de Tiago e tocou seu ombro, vendo-o se
virar com um sorriso muito amplo, daqueles que fariam seu coração perder o
compasso. Ajeitou o cabelo atrás da orelha e com muita timidez fez a pergunta
que estava ensaiando.
- Ei, quer ir com a gente no cinema?
A expressão no rosto dele foi definitiva. Envergonhada, a
menina resolveu dar as costas e ir chorar em algum canto.
É tão difícil se expôr, se colocar à mercê das dúvidas e
enfrentar algo que, a princípio, deveria ser natural e tranquilo. Os animais o
tempo todo cortejam uns aos outros e tem que lidar com a rejeição quando não
são as melhores opções. O ser humano é quem racionaliza, emociona e
principalmente se deixa afetar de forma a pensar que nunca vai se recuperar.
Além de doer, é capaz de traumatizar, colocar barreiras que vão demorar, se é
que vão, pra se desfazer.
Elton deu duas voltas na quadra antes de conseguir entrar na
loja e ir falar com Mariana. Tinham combinado de se encontrar ali há duas
semanas e a garota desmarcara o compromisso pelo menos umas quatro vezes, na
maioria por motivos um tanto bobos. Agora ele iria conversar com ela, tentar
entender porque ela estava fugindo. Encontrou a amiga parada de costas para uma
estante, analisando caixas cheias de produtos.
- Mari?
- Hum? Oi El! Tudo bem? – ela perguntou meio sem graça.
- É... tudo... eu achei que talvez você pudesse tomar um
suco comigo na sua hora do café... tem uma lanchonete ótima aqui do lado, na
galeria e...
Pode ver a tristeza no olhar dela e sentiu um bloco de gelo
no estômago. Anteviu o que vinha em seguida e aguentou enquanto ela tentava
explicar que eles não iriam sair, talvez fosse melhor não se verem mais...
E uma alternativa mais... rápida... é diminuir suas
expectativas, seja no tipo de gente com quem vai se relacionar seja na forma
como se relaciona ou mesmo se não quer se unir com ninguém. Não que você seja
obrigado a escolher um parceiro ou mesmo ter um relacionamento estável. Tudo é
questão de decisões pessoais e isso é único, é livre, cada um faz o que bem
quer. Mas a verdade é que muita gente prefere não pensar muito, afinal... a dor
lembra de quando foi seguindo uma paixão...
Danillo ficou olhando calado enquanto Fábio desfilava com
Daniel. Até o nome era parecido, mas diferente dele, o moreno era muito mais
popular, atlético e “entendido da vida”. Até seu apelido, Dani, ele tinha pego
pra si. Fábio parecia feliz, muito, e só isso o consolava. Pelo menos, por
hora, ele não estaria mais reclamando das brigas com Johnathan. Virando-se para
ir embora, Danillo viu uma mão surgir na sua frente e o rosto preocupado de
Francine o observando com um olhar tristonho.
- Você não vai falar com eles?
- Não, não... acho que só vou atrapalhar. Além disso, Fábio
parece...
- É, eu sei... ele está sorrindo. Mas ambos sabemos que
vocês dois não tiveram AQUELA conversa...
- E nem vamos ter, não é necessário.
- Mas ele está errado! Vocês...
- Ninguém está errado, Fran. Pelo menos não aqui. Ele pode
ficar com quem quiser. Só não quis ficar comigo...
E mesmo que doa pensar dessa forma, é o certo deixar que
cada um tome o caminho que desejar. E é por isso que há tantos corações
flutuando, muito fracamente, por aí, esbarrando em relacionamentos espinhosos.
Ninguém quer ficar sozinho, mas muita gente quer ficar com quem não consegue. É
uma provação tremenda lidar com isso. Nem sempre acaba bem.
Mário recuou, sentindo que era o fim. Tinha visto na cara de
Gabriella o que ela queria antes mesmo de abrir a boca. Não voltariam pra casa
juntos.
- Você... você sabe que não é o que sinto!
- Para... só, por favor... para!
- Adeus, Mário...
E partiu, deixando-o só.
Mas ás vezes, bem ás vezes, as coisas acabam bem, e alguém
ganha uma segunda chance, uma derradeira oportunidade que não foi desperdiçada.
Tiago segurou a mão de Luciana antes que ela saísse do salão
e a fez virar, com o mesmo sorriso, mas uma alegria diferente no olhar.
- Ah, claro. Desculpa, eu só fui pego de surpresa... achei
que vocês não iam com a minha cara.
- Não! Quer dizer... não, não é isso. O pessoal só te achou
diferente. Você é novo.
- É, eu sei... mas... se me conhecerem melhor...
- É isso que eu quero. Bom, topa?
- Com certeza.
A troca de olhares pode ser fatal, ser maldita, criar tanto
amor quanto desprezo. O que importa é o sentimento colocado. E aproveitar o que
vier pela frente.
Demorei mas deixo aqui meu comentário sobre toda a série. É tão estranho ler os textos direto aqui, tô tão acostumada a ver no word no seu computador... Mas é bom assim também e acho que você gosta, né? Dos textos, gosto muito do ritmo de cada um, conseguiu mudar de acordo com a música, apesar do tema ser o mesmo, você nota? Todos eles trabalham com aquele momento que você bate um papo consigo mesmo ou, como no quarto, mostra o resultado dessa conversa, essa libertação da mente. De certo modo dá pra imaginar até a mesma personagem em todos os textos anteriores. Nesse daqui, fico muito feliz que uma banda tenha ficado na sua trilha sonora por minha causa, mas não foi você quem me apresentou a Pitty? Que seja, linda finalização para a série, um conto que não é conto que talvez tenha mostrado todos os causos das outras quatro trilhas... Voei muito? Quanto texto... Amei! <3 Aguardo a próxima série.
ResponderExcluirNão consigo imaginá-los todos na mesma mente, no mesmo universo, mas sim, eles são ligados, é esse meu tipo de texto, de música, de gosto... Eu gosto MUITO sim que você leia aqui, ás vezes tento te surpreender postando primeiro, mas nem sempre isso é positivo. Você é minha corretora, minha revisora, aquela que me dá o maior apoio. E eu aprecio muito isso. E sim, eu te apresentei a Pitty, mas foi você quem me fez pegar tanto ardor por ela. Muito obrigado por tudo!
ExcluirRelendo não vejo mais todos os textos como um só, mas achei onde cada casal desse último se encaixa... E aí, concorda?
ResponderExcluirO primeiro casal apresentado no texto 'Na sua Estante' são a Luciana e o Thiago. Na micro cena ela convida ele para ir ao cinema, pensa que vai receber um não mas acaba recebendo um positivo. Thiago diz achar que eles, os amigos dela, não gostassem dele mas ele deseja esse encontro. Assim como o narrador do poema 'Learn to Fly' deseja a chave para libertar a sua mente para poder ver "vocês".
O segundo casal a aparecer são o Elton e a Mariana. Aqui o rapaz está a muito tempo tentando falar com ela, se aproximar e Mari não dá espaço, só arruma desculpas deixando-o a deriva. Assim como se sente a personagem de 'Unwell', que necessita de atenção, de uma simples pergunta de "está tudo bem?", de uma conversa de verdade.
O terceiro são Danillo e Fábio, numa situação de triângulo amoroso, onde Fábio passa a sair com Daniel e Francine, uma amiga fala que os dois precisavam ter AQUELA conversa... No dialógo apresentado ao som de 'Numb' começa com a frase "Eu prometi que teríamos essa conversa, mas não esperava que fosse com ele junto..." Aqui estão Danillo e Fábio conversando enquanto o outro Dani espera na sala ao lado.
E o quarto nós apresenta Gabriella e Mário, onde o rapaz leva um fora sofrido. No conto de 'Basket Case' vemos Mário antes do fatidico dia do rompimento, num texto onde até aprendemos que a Gabriella tem longos cabelos negros e olhos azuis.