PS: SIM, eu voltei a um bar... Sei lá, é um lugar confortável para meus personagens e minhas histórias. Aproveitem e leiam bebendo!
Procurando no DA, encontrei esta imagem PERFEITA pra representar meus bares, vindo deste perfil aqui. |
Rotina de Risco
Só aprendi duas coisas de verdade depois que fui
transformado. Uma é que não é muito seguro você ficar muito tempo sem se
alimentar e a outra é que, se em uma caçada você cruzar com um lupino,
provavelmente não caçará novamente. Em três anos nunca cruzei com um deles pra
tirar a prova, mas as enormes cicatrizes do irmão de minha mentora sempre me
disseram que não era realmente uma boa ideia. Assim, não tinha como saber que
os lupinos poderiam não só parecer gente, como serem ruivas, gostosas e
extremamente sensuais. E pior, boas de cama.
A gente se encontrou num bar, eu com um pouco de fome e ela
louca pra transar naquela lua cheia. Trocamos algumas palavras, tomamos uns
drinks, quero dizer, ELA tomou, e então saímos pra noite, pra ir pra algum
lugar mais aconchegante. Descobri depois que os perfumes que uso impediram que
ela percebesse meu cheiro de morto, e o fato do decote dela mal esconder o
umbigo me distraiu do fato de ela estar a quase 40º no meio do outono. Quando
descobrimos a real natureza um do outro já era tarde demais.
Se nos atacamos? É óbvio que sim! Ela havia acabado de meter
as patas no meu peito e sentir que era gelado e eu tinha começado a despi-la e
vi a tatuagem, então estávamos perto demais pra fingir que não poderíamos um
acabar com o outro! O clima ficou pesado e eu pedi a Deus que me devolvesse a
capacidade de beber e ficar bêbado. Trocaria tranquilamente uma ressaca por
aquela sensação. Só que, quando finalmente nos engalfinhamos, digamos que
nossos ataques não eram exatamente mortais... Nem seriam considerados ataques
em algumas culturas... Ok, eles poderiam estar nas páginas do Kama Sutra.
O remorso bateu em seguida, quando já não havia mais como
voltar atrás. Estávamos nus, sedentos por mais uma foda, e completamente
encharcados no suor dela. Eu não conseguia olhá-la com medo de que de repente
batesse a louca e ela resolvesse me estripar. Só sentia sua respiração
ofegante, que fazia seus seios subirem e descerem, subirem e descerem, subirem
e descerem... Sabem aquelas mulheres que você tem que se concentrar pra olhar
nos olhos? Pois é...
E mesmo assim, com a culpa me corroendo mais do que água
benta, e sentindo que minha mestra iria arrancar meu couro e me surrar com ele
depois, eu ainda queria mais, muito mais. Nunca antes, quando seduzi mortais
para me alimentar, eu sentira tamanho desejo, tanto tesão, e agora eu só queria
descobrir se a posição de cachorrinho com uma loba seria a melhor que existe.
Exercendo um autocontrole fenomenal e acabando com minha
força de vontade, abandonei qualquer emoção e fugi rapidamente pela porta,
deixando-a aberta. Eu tinha a vantagem da arrancada de zero a cem, então
aproveitei disso para só parar quando tivesse certeza de que ela não poderia,
nem rastreando, me seguir. Esqueci ligeiramente que não respirava e fiquei sem
fôlego, batendo com os punhos nas paredes. Um pobre coitado que estava tirando
água do joelho me viu, gritou que eu tava peladão e virou minha vítima, para
recompor as forças. Quem manda ser tão mal-educado.
Depois disso eu ganhei uma nova rotina: Evitar aquele bar
enquanto tentava ao mesmo tempo a sorte em outros, sempre na esperança que ela
fizesse o mesmo. Por duas semanas tive infrutíferos encontros com diversas
garotas de todos os tipos possíveis. Alguns de nós só procuram um tipo de
mulher, mas eu não sou fresco e traço todas elas. Só que havia uma vontade
louca em mim de esbarrar nela de novo, mesmo que isso pudesse significar meu
extermínio. Meus colegas da noite estranharam meu comportamento meio paranoico
e alguns chegaram a dizer que eu havia caído na loucura dos anciões cedo
demais.
Janice, minha mestra, passou a me encarar com desconfiança e
cada vez mais eu tinha medo de que ela usasse seus poderes para abrir minha
mente e descobrisse a minha mancada. Eu poderia ser deixado na rua pra tomar um
banho de sol se isso acontecesse e dada a experiência anterior com outro colega
meu, que ficou bem bronzeado, eu achava que não era uma boa.
Quando enfim alcancei o ápice da loucura, a ponto de caçar
mesmo quando não tinha mais fome, eu tive o azar de acha-la em um bar qualquer.
Ela estava muito mais comportada... E acompanhada de dois afrodescendentes de
dois metros de altura que eu sabia de longe serem também lobisomens. Eu fiquei
uns quinze minutos pensando em quão grandes eles poderiam ficar na sua forma
bestial e quão rápido eu podia correr, e foi tempo suficiente para um dos dois
detectar meu cheiro. Com tanta preocupação em encontra-la, acabei esquecendo de
renovar meu perfume e o fedor de carcaça deve ter chego às narinas aguçadas
deles.
Um virou para o outro, chamou a atenção e de repente eu me
senti um completo idiota por estar sozinho no mesmo lugar que três lobos, sendo
que dois deles eram grandes o suficiente para eu, no alto dos meus 1,70m, ser
considerado anão. Agora eu não teria a vantagem de correr muito e certamente
estaria na sarjeta antes do sol nascer, o que me pouparia de morrer queimado.
Se existe algum deus pros vampiros, como Caim, Vlad Tepes ou o que for, eu
rezei pra ele naquele instante.
Eles me encurralaram na saída do bar e me arrastaram pra
fora. Quem nos viu achou que eu fosse ser currado por aqueles dois gigantes e
eu achei que seria um destino mais digno ser espancado, o que prontamente me
dispunha a, desde que ficasse perto dela. Achei justo que ela se mantivesse
quieta, só acompanhando, e achei seriamente que ela ficaria ali curtindo
enquanto os dois amigos dela acabam comigo. Só quando chegamos ao beco e eles
se prepararam pra me bater que notei que eles esperavam uma ordem dela. E que
ela não deu.
Ela só ficou ali, me olhando, me analisando de cima a baixo.
Algo em seu olhar me dizia que ela poderia me devorar tanto metafórica quanto
literalmente e que seu instinto estava brigando com outra coisa dentro dela pra
decidir qual dos dois seguir. Ela batia os dedos nos cotovelos e os dois
amiguinhos dela pareciam ficar mais e mais impacientes. Se ela demorasse demais
eu poderia ser destroçado com ou sem ordem. Ela então suspirou e fez um sinal
meio estranho, que fez com que os dois ficassem indignados.
- Essa presa é minha, rapazes, podem deixar comigo.
Um olhou pro outro e berraram alguma coisa em outra língua,
mas ela simplesmente lançou um olhar feio e eles voltaram pra dentro com o
rabinho entre as pernas. Ela então veio na minha direção e eu ainda não sabia se
podia relaxar quando ela desferiu um soco no meu estômago. Vai por mim, se eu
ainda comesse teria devolvido toda a minha janta.
- E isso é pra você aprender a não me deixar sozinha, seu
imbecil.
Ela me puxou pra cima e me agarrou ali mesmo, sem se preocupar
se eles poderiam voltar. Eu fiquei tão confuso que demorei cinco segundos pra
reagir, mas até aí ela já tinha arrancado minha jaqueta. Eu a segurei pela
cintura e usando um truque que me custaria caro depois, nos lancei pra cima,
pousando no teto da boate. Deitei com ela e transamos loucamente, só parando
quando ouvíamos os fregueses indo embora e sabíamos que logo os dois
brutamontes iam procurar por ela.
- Vamos ficar nessa de nos caçar? – perguntei e fiquei feliz
em ver que ela riu.
- Sem problemas, sanguessuga. Eu tenho muito tempo livre.
- Vamos acabar mortos, isso sim.
- E você tem medo de verdade disso?
Olhei pra ela, pro corpo dela, e o calor que senti, que devo
dizer, minha anatomia vampírica não devia deixar que eu sentisse, me fez mudar
de ideia. Valia a pena arriscar.
- Duas semanas, aquele bar perto do cais.
- Sozinho, vista algo fácil de arrancar.
- Estarei lá.
E saltei pra noite, pensando em como tudo poderia me
arranjar encrenca. Eu poderia acabar morto, eu poderia simplesmente ser desintegrado
por um mais antigo que achasse aquilo uma blasfêmia. Ah, tanto faz, desde que
eu continuasse me divertindo. Afinal, foi pra me divertir que fiquei assim.
Terceira coisa que aprendi de verdade depois da transformação: A não-vida só
vale a pena mesmo quando você coloca sua imortalidade na faca. O resto é apenas
vida.
Acabei de ler e fiquei fascinada! Sério! 'Cê sabe que eu adoro seus contos sobrenaturais e sensuais, afinal, eu sou uma das maiores incentivadoras do projeto Lua Macabra, que trabalha justamente nesse ponto. Esse pode não ser um LM mas tem aquilo que me atrai. Bom... E eu tenho uma quedinha por lobisomens, né? Ariana que me perdoe! XD Ótimo texto, parabéns!
ResponderExcluirAh, e obrigada por me ensinar uma palavra nova nessa história... "currado", tadinho! >.<
Ah², sacanagem ter vampiro nos marcadores e lobisomem não! Injustiça! =P
Esqueci de marcar Lobisomem, mas já corrijo essa injustiça cruel! Ah, e que bom que curtiu, mas currado é uma palavra muito feia e podexá, nenhum personagem meu vai ser. XD Ao menos eu espero, ás vezes me surpreendo com as coisas que acontecem com eles! ;)
ExcluirBoa mano.
ResponderExcluirSão textos assim que fazem ter vontade de voltar a mestrar como antigamente.
Valeu! É por essas e outras que Gangréis e Garous se misturam XD
ExcluirPausa para comentar: Sabem aquelas mulheres que você tem que se concentrar pra olhar nos olhos? (foco nos olhos, foco nos olhos, foco nos olhos...)
ResponderExcluirSabe... Pensei exatamente nisso! XD Que bom que gostou do texto =D
ExcluirÓtimo teste, envolvente e fascinante xD
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