Ontem repeti um programinha muito legal que queria que ficasse permanente: Ir ao cinema quinta feira com as queridas
Ann Carnivalli e Ari. Sério, as duas vezes foram demais, garotas, muito obrigado pela ótima sessão. Mas, dessa vez saí do cinema motivado a escrever uma resenha, algo inédito a trazer pra cá. Bom, espero que vocês consigam ver o quanto apreciei Anna Karenina. Com vocês, minha primeira resenha aqui.
Anna
Karenina
O teatro é um espaço sagrado para as histórias, pois entre suas três paredes, e ás vezes além delas, em contato com o público, histórias podem ser contadas com poucos recursos, muita imaginação e interpretações dignas. Anna Karenina, do romance de Liev Tolstoi, é um dos espetáculos que depende muito mais dos personagens do que da história em si, e com elenco recheado, tanto surpreende quanto encanta e também decepciona, tudo a seu tempo.
A trama gira ao redor da personagem título, interpretada por Keira Knightley, e seu affair com um conde, o que causa escândalo na Rússia Czarista dividindo opiniões entre os liberais e os religiosos e muito mais além, mas o foco do filme está na chaga criada na família Karenin e no romance forte com Vronsky. Apesar de não gostar da atuação automática de Knightley, sua dedicação em tornar Anna tão agradável quanto desprezível é realmente o melhor do seu trabalho. Cada olhar dela, cada expressão de “Oh!” quando uma oportunidade surge, e cada delírio quando seu mundo começa a desmoronar é de cortar o coração e servir como petisco.
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Olhando desse jeito, até parece que ela é um doce de pessoa... |
Em contraponto, seus dois amores, o certo Karenin (Jude Law, fantástico) e o incerto Vronsky (Aaron Johnson), são excepcionais. O fato de o nome dos dois ser pronunciado da mesma forma, o que rende uma cena agoniante e vergonhosa para a pobre Anna, é a única conexão deles além da paixão pela protagonista. Aleksei Alexandrovich Karenin é um homem sério, justo, de pensamento avançado e também sentimentos nobres, que não sabe como proceder no caso de adultério e se vê confrontado por um mundo que nunca lhe passou diante dos olhos. Law dá ao personagem uma interpretação formidável e se sentimos pena dele quando Anna o humilha ou raiva quando ele se vê cercado e faz a escolha fácil, é tudo mérito do olhar firme mas triste do ator.
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Esse visual até me lembrou um certo Doutor Watson. |
Já Aaron Johnson, cujo único papel que conhecia era do garoto que apanha pra caramba em Kick-Ass, aproveita exatamente do seu ar de novato, de recém-saído da juventude. Aleksei Vronsky é o auge do furor do homem novo que Anna sem saber procura. Não há medo no seu olhar, nem mesmo incerteza, já que no fundo não há guias. Ele faz o que quer, quando quer e como quer... Ao menos até que seja levado pelas mãos pro destino que sua mãe decidiu. Não sei dizer se Johnson esteve formidável no papel ou se o diretor o colocou em uma situação confortável, mas na primeira metade do filme seu personagem rouba a cena em todos os momentos que aparece.
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Esse bigodinho é ridículo, mas ele se revela um conquistador. |
E já que falei de personagens, no outro núcleo, do irmão de Anna e de onde surge Vronsky, há outros dois personagens que me chamaram tanta atenção quanto e dos quais gostei mais: Kitty (Alicia Vikander) e Levin (Domhnall Gleeson). O segundo é conhecido pelo papel de William “Bill” Weasley na série Harry Potter, mas Vikander me era desconhecida... Ainda que agora eu passe a prestar mais atenção nela. Seus personagens giram uma segunda história, afetada pela de Anna. Kitty esperava ser desposada por Vronsky, em um plano previamente arquitetado pela Condessa Vronsky, e por isso despreza Levin. Mas quando ela é deixada em Moscou por Vronsky que correu atrás de Anna, sua personagem sofre um profundo abalo e aos poucos, tanto ela quanto Levin vão mudando, sem perder essência. Toda a sequência do encontro de Levin com seu irmão nos subúrbios da cidade, do conhecimento da prostituta que vive com ele e da renovação do personagem nos campos é um arco fantástico demais pra ser ignorado.
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Esses olhos são lacrimejantes e encantadores. |
Aliás, talvez a grande estrela do filme sejam os cenários mutantes, todos bem trabalhados para girarem ao redor dos personagens, sem tirar deles o brilho. A sequência inicial, um plano contínuo que começa em um teatro e mostra a empresa de Oblonsky, o irmão de Anna, e sua casa, além de um restaurante é de tirar o chapéu. Por mais esquizofrênica e alucinada que seja, a sensação é de imersão, um balé em que os personagens, por pouco, não transformam em ópera, cantando suas falas. Ponto alto do filme, o baile em que Anna e Vronsky dançam é belo e triste, seja pelos olhos de Karenina, deslumbrada, quanto pelos de Kitty, decepcionada.
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Essa é uma das cenas mais lindas do filme. Uma montagem doce e bem elaborada. |
A trilha sonora contribui muito neste segundo caso. Por mais absurda que uma cena seja, como a invasão de Anna à própria casa em busca do filho, as notas não nos deixam enganar, e sabemos que aquele é um momento de sofridão. Lágrimas podem correr dos olhos de todos enquanto aos poucos o mundo de Karenina vai se tornando mais escuro (em contraste ao seu vestido que passa do negro pro branco e do branco pro vermelho em cenas chave) e o de Kitty mais claro e amplo. O final, repetindo uma pequena parte da coreografia inicial, encerra o espetáculo com louvor e nas cadeiras do cinema nós deixamos o teatro. Felizes, pelos personagens, mas tristes pela história.
Eu gostei muito desse filme! Nunca tinha visto uma filmagem daquelas, com cenários mudando na forma de um teatro, e sinceramente, Anna Karenina tem a aura de uma mulher que pode por aos seus pés todos os homens que quiser. Quando a vejo em suas roupas escuras e olhar de mulher madura e sagaz, penso logo de cara em uma femme fatale que conhece os prazeres da vida e se aproveita deles!
ResponderExcluirA filmagem simplesmente foi demais mesmo. Bom, como eu disse, acabo confundindo um pouco personagem com atriz, mas ela é sim uma mulher femme fatale extremamente perigosa. XD
ExcluirDigo pra vocês que nos primeiros momentos do filme eu me senti tonta, não esperava por essa mutação nos cenários e levei um instante para pegar o ritmo da coisa e me deleitar com o filme. No figurino eu fiquei encantada pelos acessórios, chapéus, véus, colares, casacos... Sai de lá querendo comprar tudo na primeira loja do shopping! ^^ É um filme fascinante. Pra mim é um filme estado unidense que "imita" o estilo do cinema do circuito europeu, como se a linha do filme fizesse mais curvas e firulas que o padrão mais comum pra cá. Entende?
ResponderExcluirSim, estamos muito acostumados com as tramas lineares e bem pouco espessas dos filmes estado-unidenses (não que seja o padrão, mas é o mais popular nos cinemas), e Anna Karenina, parte culpa do livro, parte do roteiro do filme, segue de outra forma. Foi isso que me agradou no filme em relação à história, já que a história em si... Bem, como disse o Arthur, é uma "história de menininha" (pena que ele não comentou isso aqui... ¬¬). De qualquer forma, façamos mais sessões dessas! ^^
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