Era
um corredor longo, escuro, com baixa luminosidade vindo das raras lâmpadas
dispostas ao redor. Eu podia ouvi-lo, respirando pesadamente, aquele som
mecânico de um dispositivo que o permitia sobreviver. E ainda assim ele era a
criatura mais perigosa na nave, estava chegando perto e tudo que eu podia pensar
era em correr e me esconder. Nenhuma das portas se abria, nenhuma delas me
oferecia salvação. Foi então que, para minha surpresa, o corredor acabou e eu
estava diante de um abismo. Ele, cada vez mais próximo, e meu fim também.
—
Não tenha medo. — uma voz me disse ao meu lado e eu me virei para vê-la — O
medo te leva à raiva e a raiva ao ódio. Se você odiar, ele terá vencido.
Não
entendi bem o conselho daquela moça (ou seria senhora?) em um vestido branco e
com o cabelo preso em um penteado tão diferente, mas vi em seu olhar a força, e
compreensão disso, necessárias para atravessar o precipício. Agarrei o cabo que
estava ali para me lançar ao outro lado e quando me virei para pegá-la, e
talvez atravessar com ela, onde estava? Havia sumido? Mas a respiração se
tornou mais forte.
Fui
capaz de me jogar por entre tiros de laser vindos de soldados mascarados e
senti o frio na espinha ao ver a silhueta de meu perseguidor na plataforma que
havia deixado. Lancei-me por outro corredor e o cenário mudou. Agora podia ver,
pelas janelas, as nuvens ao redor, e cheguei a uma sala ainda mais sombria, e a
única luz avermelhada vinha do maquinário central, um tipo de forno gigantesco
que trabalhava com líquidos especiais de resfriamento rápido. A respiração
voltou e eu tremi diante da chance de ele ser realmente implacável e quiçá
onipresente. Mais uma vez ela surgiu, com seu colete e a pistola na mão e
piscou para mim.
—
Há esperança mesmo nos momentos mais sombrios, meu querido. Vá, eu os seguro
aqui. Nós nos veremos de novo, muitas e muitas vezes.
Sem
ter como retrucar, eu corri de novo e senti a súbita mudança de temperatura.
Estava muito quente e agora areia entrava por baixo das frestas. Uma música
como jazz tocava ao fundo e eu ouvi o movimento antes de ver o monte de gosma
com olhos que parecia querer me devorar. Tremi nas pernas e ela veio, como uma
guerreira, trazendo na cintura seu blaster e nas mãos a espada energética com a
qual o golpeou. Podia estar de biquíni metálico ou a armadura típica de
caçadores de recompensas, mas nada disso importava. Sua expressão era absoluta,
ela não seria derrotada.
—
Você pode fazer qualquer coisa, não importa quem seja. Desde que acredite
nisso. Todos tem chance de redenção.
Uma
porta nova se abriu e segui por ela, ouvindo aos fundos os gritos, tanto os de
vitória quanto os de dor. Eu temi por ela, mas quando cheguei à última sala ela
já estava lá, de pé, e seu rosto era sereno. Tive certeza de que não teria
feito nada sem ela ali, para me ajudar, para me direcionar. Atrás dela surgiu o
homem de armadura negra e por um instante pensei que tudo estaria acabado, mas
ele tocou no ombro dela e respirou fundo mais uma vez, não como o monstro, mas
como um ser humano, um pai que está prestes a falar algo para sua filha.
—
Está na hora. — veio a voz poderosa.
—
Eu sei. — ela respondeu e eu achei que ela estaria chorando, mas ela ainda me
deu um último olhar cálido e disse, com ternura — Fique em paz. Que a Força
esteja com você.
E
entrou na luz.
Adeus,
Carrie Fisher.
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