terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Eu sou um com a força...

Era um corredor longo, escuro, com baixa luminosidade vindo das raras lâmpadas dispostas ao redor. Eu podia ouvi-lo, respirando pesadamente, aquele som mecânico de um dispositivo que o permitia sobreviver. E ainda assim ele era a criatura mais perigosa na nave, estava chegando perto e tudo que eu podia pensar era em correr e me esconder. Nenhuma das portas se abria, nenhuma delas me oferecia salvação. Foi então que, para minha surpresa, o corredor acabou e eu estava diante de um abismo. Ele, cada vez mais próximo, e meu fim também.
— Não tenha medo. — uma voz me disse ao meu lado e eu me virei para vê-la — O medo te leva à raiva e a raiva ao ódio. Se você odiar, ele terá vencido.
Não entendi bem o conselho daquela moça (ou seria senhora?) em um vestido branco e com o cabelo preso em um penteado tão diferente, mas vi em seu olhar a força, e compreensão disso, necessárias para atravessar o precipício. Agarrei o cabo que estava ali para me lançar ao outro lado e quando me virei para pegá-la, e talvez atravessar com ela, onde estava? Havia sumido? Mas a respiração se tornou mais forte.
Fui capaz de me jogar por entre tiros de laser vindos de soldados mascarados e senti o frio na espinha ao ver a silhueta de meu perseguidor na plataforma que havia deixado. Lancei-me por outro corredor e o cenário mudou. Agora podia ver, pelas janelas, as nuvens ao redor, e cheguei a uma sala ainda mais sombria, e a única luz avermelhada vinha do maquinário central, um tipo de forno gigantesco que trabalhava com líquidos especiais de resfriamento rápido. A respiração voltou e eu tremi diante da chance de ele ser realmente implacável e quiçá onipresente. Mais uma vez ela surgiu, com seu colete e a pistola na mão e piscou para mim.
— Há esperança mesmo nos momentos mais sombrios, meu querido. Vá, eu os seguro aqui. Nós nos veremos de novo, muitas e muitas vezes.
Sem ter como retrucar, eu corri de novo e senti a súbita mudança de temperatura. Estava muito quente e agora areia entrava por baixo das frestas. Uma música como jazz tocava ao fundo e eu ouvi o movimento antes de ver o monte de gosma com olhos que parecia querer me devorar. Tremi nas pernas e ela veio, como uma guerreira, trazendo na cintura seu blaster e nas mãos a espada energética com a qual o golpeou. Podia estar de biquíni metálico ou a armadura típica de caçadores de recompensas, mas nada disso importava. Sua expressão era absoluta, ela não seria derrotada.
— Você pode fazer qualquer coisa, não importa quem seja. Desde que acredite nisso. Todos tem chance de redenção.
Uma porta nova se abriu e segui por ela, ouvindo aos fundos os gritos, tanto os de vitória quanto os de dor. Eu temi por ela, mas quando cheguei à última sala ela já estava lá, de pé, e seu rosto era sereno. Tive certeza de que não teria feito nada sem ela ali, para me ajudar, para me direcionar. Atrás dela surgiu o homem de armadura negra e por um instante pensei que tudo estaria acabado, mas ele tocou no ombro dela e respirou fundo mais uma vez, não como o monstro, mas como um ser humano, um pai que está prestes a falar algo para sua filha.
— Está na hora. — veio a voz poderosa.
— Eu sei. — ela respondeu e eu achei que ela estaria chorando, mas ela ainda me deu um último olhar cálido e disse, com ternura — Fique em paz. Que a Força esteja com você.
E entrou na luz.

Adeus, Carrie Fisher.


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