Acabei de acordar e comer alguma coisa e agora acho que meu
coquetel de remédios já me fez parar de sentir dor e tontura. Fiz uma
experiência inédita na noite passada e acabei dormindo só depois das sete da
manhã. Ontem, dia 4, eu participei do Corujandross, um projeto idealizado pelo
Edson Rossatto, editor-chefe da editora Andross que consistia em reunir o maior
número de escritores que pudesse, que já trabalharam com a Andross ou não, e
juntos irmos escrevendo em intervalos durante a madrugada. Das 22h às 6h da
matina.
Parece punk pra muita gente, mas considerando quantas vezes
eu varei a noite jogando RPG ou vendo séries, eu achei que seria de boa. Ledo
engano. Estou mais velho, com uma loja que consome muito do meu tempo e
energias e também com uma rotina que me quebrou a resistência. As primeiras
duas horas foram punks, e quase apaguei por volta das 2h30 da madrugada. E
aí... aí meu mundo se abriu numa garrafa de energético.
Não que a bebida tenha sido a única coisa a me manter
acordado. O projeto começou com uma hora de dicussão na qual os escritores
poderiam trocar ideias, se cadastrarem, conversarem com os organizadores das
antologias e prepararem material. Coisas que normalmente não faço, mas haviam
regras. Eram simples: Qualquer um poderia participar, deveria respeitar os
horários, entrar no grupo de Whats, escrever quanto conseguisse, mandar o texto
bruto até as 6h30 do dia 5 pro Edson pra receber um certificado e, acima de
tudo, se divertir. Admito, desrespeitei algumas delas... por uma boa causa.
Pra começar que durante a primeira hora eu surtei e minha
janta atrasou. Acabei partindo pra escrita com dez minutos do relógio e
contando. Por sorte eu já tinha principiado o texto e, pra minha surpresa,
feito um esqueleto do que eu queria. Ponto pra preparação do Batman! Do
primeiro eu engatei em um segundo quase sem respirar. Parei só quando bateu a
hora. Como o Edson pediu, deixei o Word pra lá e voltei pro grupo. Precisava
organizar as ideias. Quase acabando a meia hora de intervalo contatei meu
primeiro organizador, o Thiago Lee.
Achei que ele estaria todo nervoso ajudando os outros e que
teria pouco tempo, mas mais uma vez estava errado. Leu meu texto no tempo dele,
e me respondeu por áudio, dando-me dicas para refiná-lo. Eu precisava, o texto
tinha aproximadamente 8500 caracteres e o padrão de publicação da Andross é 8k.
Ah sim, tinha essa. Quem remetesse o texto depois pra uma das antologias pode
ganhar um exemplar de uma das outras publicações no final do ano. Mais um
checkpoint, porque eu já queria mandar um texto pra Steamfiction mesmo, então
uni o útil ao agradável e, com empenho, talvez eu apareça nessa antologia
steampunk. Quem leu Engrenagens... Gato Sombrio está de volta!
Mas bem, findo o texto inicial outro surgiu, e mais um...
todos meio quebrados, pra dizer a verdade. O segundo ficou aberto na tela do
meu note, vez ou outra voltando pra conferir alguma coisa, meio insatisfeito
com ele, deixei pra lá. A onda de escrita seguinte produziu basicamente...
nada. Pelo menos foi o que pensei. Voltei pro intervalo soltando fogo pelas
ventas e já tinha virado a meia-noite. Muito tempo de sobra, relógio correndo.
Chamei o Alfer no PVT e perguntei se ele se importava em ler o que tinha bolado
até ali, mesmo que não fosse submeter pra antologia depois. Ele, super dedicado,
aceitou. E lá se foi o suspense sobrenatural.
Enquanto o Alfer lia algo veio até a minha mente como uma
flecha. Uma sequência de palavras, de sensações. Transformei em uma linha. E
depois veio um parágrafo. Quando dei por mim já estava no finalzinho do texto e
o Alfer respondendo. Ele terminou, fez as considerações, eu expliquei meus
pontos e ele me mandou meter bala. Com muito orgulho mandei o quarto texto, de
terror puro, para que ele desse uma olhada. Era de lobisomem, imaginei que
fosse gostar. Adorou. Então, durante essa etapa seguinte, intercalando
desenvolvi dois textos com ele. Alfer, não tenho como te agradecer o
suficiente.
Mas ainda não estava satisfeito. Escrevi uns dois parágrafos
do que poderia ser um romance, e quando dei por mim havia descambado para a
comédia. Ficou horrível, mas um guilty pleasure que eu vou me orgulhar de ter
montado na madrugada. Faltava alguma coisa. Revisado completamente o Steam, o
Suspense e o Terror, o Romance me chamava. E aí veio a última hora. Cara... que
última hora.
Como no caso do lobisomem eu iniciei o texto com uma
experiência, optei por esconder na cara do leitor um segredo no meu romance. Falar
mais seria entregar o ouro, mas conduzi a narrativa até o final fazendo o
possível para agradar os fãs de uma comédia romântica ou de um romancezinho
bobo e fofo. E foi o que consegui. Correndo mandei pro Leandro Schulai pra ele
avaliar. Adorou. Pena que não vou poder publicar esse também (atualmente não
estou em condições e vou ter que escolher uma antologia só), mas... foi muito
gratificante.
Fiquei enrolando, deu a hora final. O Edson anunciou o
encerramento e lembrou de remetermos os textos. Mandei um email com o Retorno
de Gato Sombrio e fiquei trocando de janelas. Li alguns depoimentos e voltei
para anexar os outros cinco textos. Bons ou não, todos foram parar nas mãos de
Don Rossatto. Agora é com eles.
Se foi bom? Foi ótimo! Fiquei quase sem sono quando acabei e
ainda estou na pilha. Escrevo esse relato com muita facilidade. Eu precisava
disso, parando para pensar, de reavivar esse meu lado de escritor. Fazer as
coisas no impulso, na diversão, querendo produzir para contar histórias. Bom,
2017 acabou de começar... quem sabe eu não termine meu primeiro romance esse
ano?
PS: Milhares de beijos, abraços e obrigados à Ann e a Ari que me incentivaram e me acompanharam nessa madruga. Por causa de vocês dois textos foram produzidos com muito amor!