Quando a Deusa fez o mundo ela deve ter pensado "taí... preciso de gente pra deixar isso divertido" e foi lá e criou Neil Gaiman e Terry Pratchett... um dia eles também se uniram e... Belas Maldições nasceu.
Belas Maldições
Neil Gaiman criou a Morte, uma figura gótica (linda) e simpática que tem suas próprias desventuras ao cumprir seu papel como força do Universo que estará lá no final, ela já sabe disso, e é por essa razão que ela se permite ser melancólica, ás vezes mais que o irmão, Sonho, por incrível que pareça. Terry Pratchett também criou a Morte, a criatura esquálida, na real esquelética, que frequenta os eventos mais esquisitos e, quando é alguém importante, como um Mago, faz uma visita pessoal para buscar sua alma. Sem qualquer senso de humor, nem mesmo expressão, é uma das figuras mais carismáticas do Mundo do Disco. Juntos, eles criaram mais uma Morte... e um Apocalipse. E todo o resto.
A bela Morte de Gaiman |
nem metade, e completo, mesmo com a sensação de tantas pontas soltas.
Neste colab monstruoso nós conhecemos três figuras muito importantes: Aziraphale, um anjo que já foi guardião de um dos portões do Éden e hoje atua como livreiro (talvez o melhor que já vi... e o pior ao mesmo tempo); Crowley, a serpente que deu a maçã a Eva e que é indiretamente ou diretamente responsável pelo sucesso do Armaggedon; e Adam... o Anti-Cristo, filho do Capeta e o principal protagonista deste evento. Acompanhando as situações dos três intercaladas com a presença de mais uma dezena de outros personagens muito divertidos, o Apocalipse vai se aproximando, como se fosse uma grande festa, mas quem programou não avisou os convidados de que seria em outro lugar e a banda está voltando de um hiato de milênios e não faz ideia do que tocar. E essa é a melhor descrição que posso fazer sem entregar nenhum spoiler.
O texto é sórdido, ele te faz se perguntar se você deveria torcer ou não pelo Apocalipse, o que é bem uma característica de Terry Pratchett, mas ele também nos brinda com uma mitologia que é tão simplista quanto confusa e que te faz imaginar por horas o que há além daquilo, algo típico de Neil
A Morte veio buscar Terry como uma amiga |
E esse é o ponto chave do texto dos dois. Ainda que as situações, dentro da minha concepção de leitor veterano, não estejam no ápice do que eles podem escrever, os personagens estão tinindo de tão afiados. Crowley é sádico, divertido, provocador. Aziraphale é um gentleman, um espécime de connossieur de classe S das profecias... ah, sim... as profecias.
Durante o livro nós somos apresentados às' Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa, possivelmente as únicas inscrições da história que são realmente fidedignas aos eventos que irão acontecer muito, muito depois da morte da sua autora. Um livro dentro do livro, esse tomo sagrado é do interesse tanto de Aziraphale quanto de outros personagens que acabam por aproveitar das predições para compreender o que está acontecendo, que às vezes nem nós, os leitores, oniscientes, conseguimos. E como são engraçadas as anotações da falecida e sacana maga. Por si só, a história de Agnes poderia render todo um livro maravilhoso. Sua personalidade, aliás, muito lembram outras bruxas de ambos os autores, o que comprova que a união deles rendeu bons frutos.
Mas Belas Maldições não é de todo perfeito. Algumas passagens causam perda de ritmo, o que me fez travar em alguns pontos, em especial quanto aos garotos de Adam. Parece que para não ser muito rápido em relação aos outros eventos do livro, o núcleo dele entrou em marcha lenta ao ponto de haver passagens que meio que repetem algo que já vimos antes. Além disso, os coadjuvantes do garoto, as outras crianças, não são tão divertidas quanto, digamos, a descendente da bruxa ou o caçador de bruxas novato. Por isso mesmo, Belas Maldições não é um livro que eu recomendaria para iniciantes em ambos os autores, deixando para depois de estarem acostumados com os estilos deles.
A LENDA! |
Olha só essa dupla de anjos! (lindos David e Michael) |